A Imaculada Conceição e o tempo atual

A Solenidade da Imaculada Conceição de Maria é uma das festas mais alegres proporcionadas pela contemplação da Mãe de Deus e Nossa. A padroeira do povo brasileiro tem a menção à imaculada em seu nome, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, como muitas igrejas, paróquias e dioceses na Igreja Católica no Brasil, fato que testemunha o apreço desta devoção pelas comunidades.

A definição dogmática foi proclamada em 8 de dezembro de 1854, na bula Ineffabilis Deus, do então Papa Pio IX, afirmando “que a beatíssima Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção” (ID, 41). É interessante recordar a importância do povo de Deus na intuição do imaculado nascimento de Maria, pois várias gerações de cristãos repudiaram teólogos ou quem quer que seja, que negasse esta afirmação de caráter teológico. 

E assim, a verdade de fé sobre a conceição sem pecado de Maria foi sendo aprimorada na Igreja, e se integra na definição pontifícia, esclarecendo que a “singular graça e privilégio de Deus onipotente” ocorreu “em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo” (Idem). Aqui, não se trata de um mero pragmatismo do Criador a conceder uma graça especial em vista de um projeto. 

Em primeiro lugar, a escolha evidencia um amor especial de Deus por Maria, amor este que sempre surpreende, como sempre diz o Papa Francisco. Um amor gratuito, livre, dialogal, edificante; iniciativa de quem ama de modo incondicional e propõe um caminhar comum. De outra parte, a fé do povo simples ajudou a reconhecer a virtude daquela filha de Sião, interpelada em Nazaré pelo anjo Gabriel, a qual permaneceu Imaculada.

O privilégio concedido àquela filha de Nazaré não foi em vão, mas eficaz. Maria não se deixou seduzir pelos males que certamente havia naquele pequeno vilarejo e a circundavam. Ela permaneceu fiel à Palavra do Deus de Israel ao seu povo, ao qual era integrada e caminhava em comunhão. E, diferentemente de Adão e Eva, não renegou o estado da graça concedida, tornando-se cada vez mais “cheia de graça”.

A festa da Imaculada Conceição de Maria ajuda a entrever este horizonte de graça, abundante, reservado por Deus aos que O acolhem e se dispõem a viver alicerçados na justiça do seu Reino. Ajuda, igualmente, a perceber que o ser imaculado, criado à imagem e semelhança do Criador, concedido a Maria em vista do Salvador, continua impresso em cada ser humano. Por isso, a humanidade não se degenera, apesar dos males que permeiam as estruturas da vida humana. 

Mesmo quando a sociedade se depara com grandes males disseminados pelo tecido social, como alguns dos nossos atuais: desigualdade, racismo, feminicídio, polarização ideológico-política etc., ainda há quem se indigne e não compactue, optando por tentar combater as situações geradoras de morte, mesmo que esse posicionamento lhe acarrete dificuldades. Assim, vemos homens e mulheres altruístas lutando pelo que é bom, verdadeiro e justo, mesmo que o clima não seja nada favorável.

No entanto, Maria Santíssima, Mãe de Deus e Nossa, testemunha que a abertura a Deus potencializa aquilo que há de melhor nas pessoas, assim como as graças divinas em vista de bens até insondáveis, como a maternidade divina, em prol de todos. Acolher a Deus, a sua Palavra e seu projeto é o melhor caminho para a construção de um modo de convivência edificante e realizador, no qual as pessoas podem se desenvolver e servir com suas capacitações. 

O momento histórico, com as crises decorrentes ou agravadas pela pandemia, tem exigido e exigirá esforços e doação de cada um em prol dos outros. Neste tempo, a fraternidade e a solidariedade como que se impõem. A contemplação da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus, testemunha que é possível ao ser humano percorrer essa via, sobretudo em abertura ao Deus bom e misericordioso.  

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