No trajeto entre as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, a Igreja no Brasil convida as comunidades a orar pela unidade dos cristãos. É um evento promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas. No hemisfério Norte, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) ocorre entre 18 e 25 de janeiro, desde o ano de 1908.
Propor a unidade é convidar à construção de algo que confere beleza e alegria à realidade, pois unir significa integrar e harmonizar os elementos existentes. A isso os gregos chamavam cosmos, um conjunto bem ordenado, orgânico. E o contrário, caos, palavra ainda muito utilizada como temida, pois indica confusão e desordem, normalmente resultante de situações conflitivas, esgarçadoras da unidade.
O anseio pela unidade perpassa os relatos bíblicos como as narrativas da criação, o caminhar das doze tribos de Israel e do grupo dos Doze, assim como a história da Igreja. No entanto, a construção da unidade não é tarefa das mais fáceis. Os relatos da criação têm o contraponto no desacordo total em Babel; os filhos de Jacó conheceram uma cisão irreversível; entre os Doze, houve quem discordou e entregou Jesus; e fraturas são conhecidas ao longo do percurso dos cristãos.
É oportuno recordar, também, um fato recente, ocorrido na realização da última Campanha da Fraternidade, quando grupos e pessoas preferiram ressaltar e lançar luz a fatores de divisão, causando grande desconforto ao que seria um momento de avanço da experiência ecumênica entre a Igreja Católica e outras Igrejas cristãs. Nesse sentido, um tempo específico para orações pela unidade dos cristãos é bem-vindo, e se inscreve no realismo cristão, sabedor de que algumas realizações só ocorrem com a intervenção da graça de Deus, mesmo em relação aos melhores intentos.
O Papa Francisco, em reflexão sobre o tema da unidade dos cristãos, na Audiência Geral do dia 20 de janeiro de 2021, disse que “a unidade só pode vir como fruto da oração… humilde, mas confiante participação na oração do Senhor”. E perguntava se rezamos nesta intenção, “pois a fé do mundo depende disto; com efeito, o Senhor pediu a unidade entre nós para que o mundo creia”.
Este argumento se encontra muito claro no documento conciliar Unitatis redintegratio, quando aponta a divisão entre os cristãos como um escândalo para o mundo e prejuízo para o anúncio do Evangelho (cf. UR, 1). As comunidades inseridas na mesma missão do Senhor não podem perder de vista que o fator unidade é condição sine qua non para o “sucesso” das iniciativas missionárias, como para a credibilidade da mensagem cristã.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, proposta no hemisfério Sul, entre as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, oferece um belo itinerário para os discípulos missionários cumprirem este “dever”. A Ascensão do Senhor ressalta a vitória do Ressuscitado sobre os males geradores de divisão, e convida a empenhos pela causa do Reino, fazendo ressoar aos seus seguidores: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15).
No entanto, a missão não se realiza sem a condução do Espírito Santo, menos ainda sem ser precedida pela obra do mesmo Espírito, ou seja, a unidade da comunidade no amor. Nesse sentido, para iluminar e nortear as orações por esta causa foi apresentado o tema: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (Jo 15,5-9). É missão do Espírito dar forma ao desejo profundo manifestado pelo Senhor aos seus seguidores nesse texto, para libertar as pessoas do fechamento em seus próprios interesses, e abrirem-nas ao encontro enriquecedor de partilha de experiências oriundas do seguimento de Jesus Cristo e esforços pelo anúncio do Reino de amor e paz.
Que sejam dias de intensa oração por uma causa fundamental para a ação missionária das Igrejas cristãs.