A cada dia que passa, nós nos aproximamos da celebração do nascimento do Menino Deus. O profeta Isaías remete-nos a esse acontecimento dizendo: “Ó céus, deixai cair o orvalho, nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador”. Já o profeta Miqueias define Belém como chão onde nascerá o Salvador e faz acenos de que Ele será como um pastor que “apascentará com a força do Senhor e os homens viverão em paz”. Entretanto, esse mesmo profeta, antes dessa bela profecia, teceu duras críticas aos governantes da época: “Vocês são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão”. Palavras fortes, mas ainda muito atuais.
E, para que céus e terra se unam para brotar o Salvador, Deus vai contar com a participação de duas mulheres, uma virgem e a outra estéril, ambas grávidas de modo “impossível”. Primeiramente Maria, que sai apressadamente da pequena Nazaré passando por lugares montanhosos até chegar à casa de sua prima, Isabel. Ela se reveste dos traços sublimes do mensageiro de Isaías, que diz: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que leva boas novas a Sião”, e também do perfume do amor novo do Cântico dos Cânticos, que afirma: “A voz do meu amado, ei-lo que vem correndo sobre os montes”. Maria não se dirige ao templo nem ao sacerdote. Os homens do seu tempo estavam preocupados com outras coisas e teriam dificuldades em compreender o que estava acontecendo.
Numa aldeia na região da Judeia, Isabel acolhe a mãe do Salvador num clima festivo que contagia até os meninos que estão no útero de suas mães. Com Maria, o sinal divino é alegria; com Isabel, o sinal é afeto, acolhida, abraços. Duas mulheres simples que gestaram o Salvador e o Precursor oferecendo suas vidas para a salvação da humanidade. “Toda história da esperança humana, a humanidade inteira se condensa em duas mulheres” (Padre Adroaldo).
Em Belém, periferia da grande Jerusalém, logo que nasceu, o Menino Deus foi enrolado em faixas e colocado numa manjedoura, coisa de mãe e de pai, Maria e José. Na morte, o corpo é enrolado em faixas e colocado em um túmulo novo, gesto de outro José, o de Arimateia. Os corpos, a vida, as pessoas precisam de cuidados o tempo todo: colocar faixas para proteger, retirar faixas para libertar.
O Menino não ficará enfaixado, não permanecerá em Belém, começará a caminhar, viverá dias de estrangeiro no exílio, como peregrino que não tem onde reclinar a cabeça, como leproso precisando viver fora da cidade. Ele caminhará assim e não poderá caminhar sozinho. Sejamos nós, cada um de nós, o seu companheiro, a sua companheira. Volte para sua comunidade, recomece sua atividade pastoral, seja corajoso(a), volte melhor do que estava antes. Jesus o(a) espera como criança, estrangeiro, peregrino, morador de rua, enfermo, encarcerado, faminto. Ele está no meio de nós.
Por ora, o convite é para celebrar e viver o Natal. Não deixem que o Natal termine com a ressaca do dia 25 nem com as festividades da passagem do ano. Vivam intensamente estes dias festivos como se fosse um único dia, em tudo contemplando o gesto grandioso de um Deus que fez sua tenda entre nós. Que sejam dias felizes de celebrar a Eucaristia, para cantar hinos natalinos, para rezar em volta do presépio, para o convívio fraterno com os conhecidos e desconhecidos. Um santo Natal e um feliz Ano-Novo!