Ainda sobre a esperança…

No Tempo Pascal, os cinquenta dias entre o Domingo da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes, a Igreja celebra com alegria e exultação um tempo como se fosse um só dia de festa ou, como disse Santo Atanásio, “como se fosse um grande Domingo”. O túmulo vazio é a maior expressão de nossa fé católica. Talvez a morte seja o que mais angustie a cada um de nós. Sim, carregamos no íntimo uma voz que grita por vida eterna. Nos passos dados a cada instante, afastamos qualquer pensamento de um fim definitivo, pois já compreendemos que fomos criados para a eternidade. Mas aí advêm as enfermidades e as imposições do envelhecimento que temos de enfrentar; enquanto observamos o que acontece também aos nossos familiares, parentes e amigos. Essas contrariedades chegam para nos recordar – em tempo real! – nossa finitude. Todavia, a Ressurreição de Jesus Cristo torna-se nossa grande esperança. Aliás, digamos sem receio: nossa única esperança. Se cremos na Ressurreição de Cristo, devemos viver com esperança, praticar a esperança, ensinar a esperança. A morte nos assusta, eu sei; as enfermidades nos limitam, é verdade! Mas Deus é nossa esperança! Crer na Ressurreição se torna uma opção entre viver a irracionalidade de uma vida sem sentido ou crer que vale a pena viver, rezar e esperar. Esperemos, pois, no Senhor, porque de ninguém mais poderá vir a nossa quimera.

A esperança cristã, que não decepciona, e nossa fé no Ressuscitado são compartilhadas por muitos: Jesus fundou uma religião que conta hoje com 1 bilhão e 400 milhões de fiéis. Somos mais de 5,3 mil bispos; meio milhão de sacerdotes; cerca de 50 mil diáconos permanentes; aproximadamente 600 mil religiosos e religiosas; 360 mil missionários leigos. Temos 5,4 mil hospitais e mais de 17 mil casas para enfermos e idosos. São 223 mil escolas, com cerca de 90 milhões de alunos. Sim, sabemos que a “barca de Pedro” algumas vezes navega em mares revoltos. As tempestades, porém, não são novidade na Igreja de Jesus Cristo. Blaise Pascal foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo católico francês. Em 1650, ele escreveu assim: “É agradável desafiar as tempestades e os ventos, quando você sabe que sua barca jamais irá afundar”.

Nossa Igreja Católica é fruto também da grande crise da Sexta-feira Santa, mas foi revestida pela força do Espírito Santo; e a Igreja continua alumiada pela luz que vem do Alto, amparada pela certeza da Ressureição de seu Fundador. Ele confiou a Igreja a Pedro (hoje, a Francisco), para exercer a tarefa de confirmar os irmãos na fé. O manual de vida – do Papa e de cada um dos fiéis católicos – é o Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Nele, o amor foi ferido pois, a dor sempre tem dois lados: dos crucificados, os que sofrem; e dos crucificadores, os que fazem sofrer. Em “Mater Dolorosa”, o Padre Zezinho cantou assim: “Tu que, ao sangue do teu filho mistura tuas lágrimas. Tu que sem perder teu brilho sufoca tuas mágoas. Tu que tens teu filho morto nos teus braços de mulher. Ora pelas mães! Ora pelas mães! Pelas mães dos assassinos. Pelas mães dos que morreram: Todas elas vestem luto, pois morreram com o filho.”

Os que crucificaram Jesus não faziam distinção: na cruz, pregavam qualquer um, fosse culpado, fosse inocente. Jesus foi morto por nossas transgressões. Nosso pecado exigiu aquela morte. Agora, procuremos honrá-Lo. Honremos os que morrem por nobres causas, os que dão a vida por sua fé, pela família, pela dignidade, pelos direitos de todos. Talvez você conheça muitos assim. Quiçá você seja uma pessoa assim! São estes os que nos formam na fé e na esperança. Os que semeiam um amanhã melhor. Sem esperança talvez não estivéssemos mais aqui. Que bom que alguém nos gerou, nos formatou para a esperança. “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança Nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15,13).

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