Concluímos o Tempo do Natal e iniciamos, no Ano Litúrgico, o Tempo Comum. Sabemos que a liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo, a memória do Ressuscitado na vida de cada pessoa e da comunidade. Como nos dizem as Normas para o Ano Litúrgico, ele “revela todo o mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a Encarnação e Nascimento até à Ascensão, ao Pentecostes e à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor” (Sacrosanctum concilium, 102). Ele assim nos propõe um caminho espiritual, ou seja, “a vivência da graça própria de cada aspecto do mistério de Cristo, presente e operante nas diversas festas e nos diversos tempos litúrgicos” (cf. Normas sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, NALC, 1). Trata-se, portanto, de um caminho espiritual, um itinerário de fé e de amor. A celebração do Ano Litúrgico é sacramento, com especial eficácia para alimentar a vida cristã, e ao mesmo tempo se torna um caminho pedagógico, catequético e espiritual nos ritmos do tempo, na história.
O Tempo Comum na liturgia começa no dia seguinte à celebração do Batismo do Senhor, logo esta semana, e se estende até a terça-feira antes da Quaresma, inclusive. E após o Tempo Pascal, recomeça na segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e termina antes do 1º Domingo do Advento. A ênfase dos 33 (ou 34) domingos é dada pela leitura contínua do Evangelho, um verdadeiro itinerário catequético e espiritual. Somos colocados no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos. Neste Tempo Comum, temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do Mistério Pascal (Maria, Apóstolos e Evangelistas, demais Santos e Santas).
O Tempo Litúrgico Comum exige de todos, e de cada um de nós, uma vivência e busca intensa da espiritualidade, ou seja, adentrar no mais profundo do mistério de Cristo, conduzidos pela força do Espírito Santo. O verdadeiro culto cristão é um encontro com o Senhor ressuscitado, que vive na dimensão de Deus, além do tempo e do espaço, e, todavia, se faz realmente presente na comunidade, nos fala nas Escrituras Sagradas e parte para nós o Pão da Vida Eterna. Antes de tudo, valorizar principalmente o domingo, como o dia de encontro da comunidade, irmãos e irmãs na mesma fé. Na celebração da comunidade e na Eucaristia, afirmar a identidade própria de cristãos, membros do Corpo Vivo de Cristo Ressuscitado. No encontro de fé, somos chamados à nossa mesma santificação na glorificação do Senhor.
Diz o Catecismo da Igreja Católica,1083: “Compreende-se então a dupla dimensão da liturgia cristã como resposta de fé e de amor às bênçãos espirituais com que o Pai nos gratifica. Por um lado, a Igreja, unida ao seu Senhor e sob a ação do Espírito Santo, bendiz o Pai ‘pelo seu Dom inefável’ (2Cor 9,15), mediante a adoração, o louvor e a ação de graças. Por outro lado, e até a consumação do desígnio de Deus, a Igreja não cessa de oferecer ao Pai a oblação dos seus próprios dons e de Lhe implorar que envie o Espírito Santo sobre esta oblação, sobre si própria, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a fim de que (…) estas bênçãos produzam frutos de vida, ‘para que seja enaltecida a glória de sua graça’ (Ef 1,6)”.
Que no Ano Litúrgico, e neste Tempo Comum que iniciamos, possamos fazer um profundo caminho de fé e de amor, com toda sorte de bênçãos espirituais e frutos de plena vida.