Com tantas divisões no nosso tempo, e com tantos motivos para nos dividir, acabamos nos transformando em seres unitários e isolados. Quase o tempo todo, estamos classificando as pessoas por suas características pessoais. Acentuam-se, cada vez mais, as diferenças, mesmo quando o que estamos procurando é a igualdade. Mas, nós acabamos formando grupos, sempre a partir de características que passam a nos definir. E esses grupos correm o risco de seguir a mesma mentalidade e de se tornarem isolados e exclusivistas. Então, estamos sempre nos referindo a coisas que nos unem, mas sempre a partir das coisas que nos distinguem e nos separam dos outros grupos. Poderia ser diferente! Poderíamos trabalhar mais para promover o que temos em comum.
A questão que o Evangelho nos recorda relaciona-se com o seguimento religioso e os grupos religiosos. A história da humanidade está cheia de guerras travadas por “motivos religiosos”, embora, muitas vezes, a questão religiosa tenha sido apenas um pretexto. No Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum, João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (Mc 9,38). Interessante o pensamento de João! Parece que ele não se deu conta de que os inimigos do grupo de Jesus eram os demônios e não quem os expulsava. Curioso, também, que não tivesse percebido seu ato falho, quando se referiu a Jesus para dizer que o homem expulsava demônios em nome Dele, mas não se deu conta de ter se apossado do grupo de Jesus, quando disse que proibira o homem porque ele “não nos segue”. Se João tivesse se lembrado de que era discípulo de Jesus e não Jesus discípulo dele, não teria pretendido que alguém o seguisse nem teria se arvorado em querer proibir alguém. Saberia que, se alguém pudesse ter o direito de proibir o uso de seu nome, seria Jesus e ninguém mais. Não teria pretendido tornar-se detentor dos “direitos autorais” de Jesus.
A esse respeito, lembro-me de quando trabalhava em uma fábrica, antes de entrar no seminário. Fui apresentado a um novo colega de serviço para que o ensinasse a trabalhar na máquina que eu operava. Ele era evangélico, bastante convicto de sua fé e de sua igreja. No meu departamento, eu era conhecido como católico. Tínhamos um grupo de oração que se reunia na hora do almoço. Levei esse colega algumas vezes ao grupo. Avisei-o do dia em que rezávamos o Terço, para que ele se sentisse à vontade para não ir naquele dia. Ele me agradeceu! Ia quando se sentia à vontade. Falávamos de Jesus, do Evangelho, da fé. Nossa admiração e respeito eram mútuos. Os colegas me chamavam de “padre”, e a ele chamavam de “Anjinho”. Um dia, um de nossos supervisores se aproximou de mim e me perguntou: “Como você está se dando com o novo companheiro de serviço?” Eu disse que estava muito bem e perguntei por que não estaria. Ele disse: “É que vocês são de religiões opostas”. Então, falei-lhe que estava enganado, porque “eu era cristão, e meu colega também era”. Claro que, se ele não fosse cristão, eu o respeitaria também! Mas o ponto é que nós nos demos muito bem porque procurávamos levar em conta o que tínhamos em comum e não o que tínhamos de diferente.
No fundo, todos os seres humanos têm algo em comum. Por isso, Jesus nos ensinou a dizer: “Pai nosso”. E quem pretende estar do lado de Jesus nunca estará contra alguma pessoa. Poderá opor-se a alguma má conduta, mas não à pessoa. Procurará sempre promover a concórdia e a unidade. E jamais se oporá a quem faz o bem!