Domingo da Palavra de Deus

No 3º Domingo do Tempo Comum, por instituição do Papa Francisco, celebramos o Domingo da Palavra. Este ano, os textos propostos para a celebração dominical ressaltam a força da Palavra na reconstrução de um povo, na vida comunitária e pessoal e na ação missionária.

O regresso do povo de Israel à pátria, depois do exílio na Babilônia, foi um tempo de grandes dificuldades. Liderados pelo sacerdote Esdras e o governador Neemias, os repatriados tentam reconstruir o país, recuperar a memória do passado e conservar a própria identidade de povo livre. Para assegurar a unidade do povo, o sacerdote Esdras apresenta a Lei (Palavra de Deus), guardada não só na memória, mas também por escrito.

O povo está reunido em Jerusalém, na praça da Porta das Águas, a escutar a Lei. Os que dispersaram com a deportação agora se encontram reunidos à volta da Sagrada Escritura. Foi construído um lugar mais alto de onde o Livro foi aberto e todos podiam ver e ouvir o que era lido. Logo que Esdras abre o Livro, o povo reage por meio de expressões corporais: todos ficam de pé, todos erguem as mãos e proclamam: “Amém, amém”; todos se ajoelham e se inclinam até o chão. Feita a leitura, o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras e os levitas passam a explicar de modo que o povo podia compreender e atualizar o sentido da Palavra lida. Novamente, a reação do povo que começa a chorar e novamente a palavra consoladora de quem ensina: “Não fiqueis tristes nem choreis. Ides para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força”. Mesmo em situação tão difícil, a Palavra produziu o melhor fruto: quem nada tinha não passou necessidade, quem tinha em abundância não acumulou para si, mas partilhou.

O evangelista Lucas escreve aos cristãos contando que Jesus voltou para a Galileia, e, na cidade de Nazaré, num dia de sábado, entrou na sinagoga. Levantou-se para fazer a leitura, foi-lhe dado o livro do profeta Isaías, abriu o livro, fez a leitura, fechou-o, sentou-se e todos tinham os olhos fixos nele. Então, começou a ensinar dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem que acabastes de ouvir”. Assim como no texto de Neemias, também aqui se vê o valor que é dado ao Livro e toda a movimentação em torno dele, mas, depois de lido, o foco é quem fez a leitura, pois “todos tinham os olhos fixos nele”. O texto reporta ao escrito do profeta Isaías acolhido por Jesus como programa de vida para uma humanidade definida como pobre, prisioneira, cega e oprimida. Quer ser como uma mãe que se inclina sobre o filho que sofre, como riqueza para o pobre, como olhos para o cego, como libertação de todas as opressões e dos medos. Jesus, porém, não leu todo o versículo do profeta Isaías, que concluía assim: “Para promulgar o dia de vingança de nosso Deus”. Com isso, Ele quis mostrar que Deus abomina comportamentos marcados por vinganças, quer somente trazer alegria, liberdade, olhos novos e libertação. A Palavra nos impele a fazer alguma coisa, fechar o Livro e a nos abrir para a vida. Para os egressos do exílio, a Palavra impulsionou as pessoas a voltar para casa, fazer uma deliciosa refeição e partilhar com quem não tinha o que comer. No Evangelho, a Palavra levou as pessoas marginalizadas à posse da vida plena. Para os membros da comunidade de Corinto, a Palavra nos ensinamentos de Paulo fez com que cada pessoa percebesse a sua responsabilidade diante de todo o grupo, bem como respeitasse e valorizasse o outro que atuava na mesma comunidade. Percebendo que a verdadeira comunhão estava em perigo, Paulo fez uma catequese comparando a comunidade com o corpo humano. Cada órgão é importante, cada dom é importante. Os dons não conferem valor às pessoas nem as colocam acima das outras. “Se houver necessidade de privilegiar alguém, o pequeno e pobre, o marginalizado é que devem ocupar o primeiro lugar” (José Bortolini). Deixemos que a Palavra em nós tudo modele, pois nela a alma descansa, o ignorante se instrui, o coração se alegra e os olhos se iluminam (cf. Sl 18/19).

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