Eis o tempo

Na Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma, começamos nossa preparação para a Páscoa de Jesus e para a nossa.

Vivenciamos neste tempo da Quaresma um tempo forte de conversão e de voltar nosso coração para Deus. Auxiliados pela oração, pelas práticas do jejum e pela caridade, somos convocados, à luz da Sagrada Escritura, a um verdadeiro tempo de conversão.

Na Igreja das origens, era o tempo de preparação para o Batismo, o qual era celebrado na noite da Vigília Pascal. Nesse tempo, os catecúmenos aprendiam o Credo apostólico. Por isso, a primeira leitura do 1º Domingo da Quaresma cita o Creio “histórico” dos judeus, chamado também “Confissão de fé”. Relata a história do povo: era um pequeno grupo de escravos que, pela ajuda do Senhor, rompeu a escravidão, libertou-se e conseguiu a terra onde se organizou numa sociedade alternativa, justa e fraterna.

O credo cristão recorda, seja na comunidade reunida em assembleia, seja no silêncio do coração, outra libertação: a que libertou Jesus da morte. Para ser livre da escravidão, Israel atravessou o deserto por 40 anos. Celebrou sua Páscoa de libertação. Acreditar em Deus é reconhecer sua passagem ao longo de nossa história. Professar a fé em Deus é recordar suas maravilhas.

A Quaresma é uma subida à Páscoa, como os judeus subiram a Jerusalém para oferecer sua vida. O novo povo, o cristão, passa um tempo de “quarentena” para sair renovado, ressuscitado.

Nossa subida à Páscoa está sob o sinal da provação. A caminhada cristã renova nossa fé. Pode se tornar acomodada, uma fé morta, que não passa por nenhuma tentação. A fé se confirma e se aprofunda em sucessivas decisões e tentações. É uma luta, assim como foram as tentações de Jesus no deserto: tentação de riquezas, de poder, de sucesso.

Se a Quaresma é o caminho, é bom lembrar que também há tropeços, desafios e dificuldades. Ninguém nunca disse que viver como cristão seria fácil e é muito saudável lembrarmos Dele, olhando para o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A opção por Deus precisa de um treinamento. Esse treinamento a Igreja propunha antigamente com os jejuns e as diversas mortificações pessoais e comunitárias.

Nos nossos tempos, na América Latina, empobrecida e desigual, o treinamento da opção da fé se realiza sobretudo na sempre renovada opção pelos pobres e excluídos. A Campanha da Fraternidade é uma proposta para adestrar nossa prática para enfrentar os demônios de hoje, a tentação da idolatria, da riqueza, da dominação, da discriminação, da competição.

Nossa opção de fé se torna forte se praticarmos a solidariedade fraterna para chegar a Jesus, que deu a própria vida na grande hora da cruz. Quem não se exercita, não saberá resistir. Eis o tempo.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários