Espelhar-se no exemplo de fé, esperança e caridade de Nossa Senhora

“Estou confiante de que todos, especialmente aqueles que sofrem e estão atribulados, poderão experimentar a proximidade da mais afetuosa das mães, que nunca abandonam os seus filhos; Ela que é, para o santo Povo de Deus, ‘sinal de esperança segura e de consolação’” (Papa Francisco, Bula Spes non confundit 24).

Prestes a celebrar a Assunção de Nossa Senhora ao céu em corpo e alma, no contexto preparação para o Jubileu de 2025 e do Sínodo sobre a sinodalidade, voltemos nosso olhar para Maria, Aquela na qual a esperança encontra sua testemunha mais elevada (cf. Papa Francisco, Bula Spes non confundit 24), Aquela que é a Stella Maris que, em meio às tempestades da vida, aponta ao navegante o porto seguro que é Cristo! 

O Povo de Deus, que caminha de modo sinodal, é sempre chamado a seguir Jesus e se espelhar no exemplo de fé, esperança e caridade de Sua mãe, perfeita discípula e também missionária, evangelizada e evangelizadora, como afirma o Documento de Aparecida (cf. DAp 266-272), destacando sua fé, sua obediência e disponibilidade à vontade de Deus, sendo por isso “o primeiro membro da comunidade dos crentes em Cristo” (DAp 266) e “grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários” (DAp 269)”.

O Novo Testamento fala de Maria como Serva obediente do Senhor (Lc 1,26-38 //Mt); Mãe (cf. Jo 19,25-27); Servidora (cf. Lc 1,39-40.56); Contemplativa (cf. Lc 2,19.51: “guardava tudo no coração”); Intercessora (Bodas de Caná – Jo 2,1-5); Discípula (Lc 8,21); Orante (cf. Lc 46-55; At 1,14); “Apóstola” em Pentecostes (At 2); e Vencedora com Cristo (Ap 12,1ss). 

Frei Carlos Mesters, no livro “Maria, a mãe de Jesus”, editora Vozes (1983), procurou condensar tudo isso em três retratos que a Bíblia nos dá de Nossa Senhora. 

No primeiro Maria é de Deus: ouviu, creu e viveu a Palavra na mais estreita fidelidade, da Conceição à Assunção. Maria era conhecedora da Palavra, a meditava sozinha (cf. Lc 2,19.51) e com o povo – como é possível perceber em seu canto do Magnificat (cf. Lc 1,46-55). Procurava viver a Palavra e não somente ouvir (cf. Lc 1,38); era pessoa de fé (cf. Lc 1,45), e aí está a causa da grandeza de Maria: ela acreditava! (cf. Lc 11,28). 

No segundo, Maria era do povo: sempre atenciosa e preocupada com os demais como no episódio da visita a Isabel (cf. Lc 1,39.56), nas Bodas de Caná (cf. Jo 2,1ss), na cruz junto ao seu Filho (cf. Jo 19,25) quando, com exceção do discípulo amado, todos O abandonaram. E mesmo assim, ela está junto aos discípulos em Jerusalém, ela não os abandona (cf. At 1,14). Maria sempre estava ao lado dos pequenos (Cf. Lc 1, 48.50-53). 

No terceiro retrato, Maria é aquela que reza com os amigos: o canto do Magnificat (Lc 1,46-55) mostra que Maria sabia louvar a Deus com as palavras da Escritura e com aquilo que lhe saía do coração, sabia reconhecer a ação de Deus em favor dos pequenos e depositar Nele sua esperança. Também nos At 1,14 Maria estava junto aos Apóstolos, às mulheres e aos outros discípulos em oração no aguardo de Pentecostes, momento em que a comunidade dos discípulos se torna Igreja missionária. Ela está em Pentecostes para receber o mesmo Espírito que concebeu Jesus em seu ventre.

Olhemos para Maria como servidora de Cristo e do próximo, para nos inspirar em nossa caminhada como discípulos-missionários de Cristo, pois Ela soube viver o amor para com Deus e para com os irmãos, sendo toda de Deus e do Povo. Ela, de fato, é exemplo de serviço, cumpriu na sua vida aquilo que diz São João: “Mas o que guarda a sua palavra, nesse, verdadeiramente, o amor de Deus é perfeito”.  (1Jo 2, 3-5a). Ela soube amar a Deus, a Cristo e aos irmãos: a Deus deu o seu sim, a Cristo o seu coração e seu ventre como morada, aos irmãos o seu auxílio e, a todos, o seu amor. Nos recordou que precisamos dar importância à escuta, meditação e prática da Palavra de Deus; sermos de Deus e, ao mesmo tempo, sermos do Povo e caminhar como Igreja Sinodal em comunhão, participação e missão, perseverando na oração e sendo fortes na tribulação. Peçamos a graça de sermos como Ela, servidores do Reino, colaboradores de Deus e de Cristo para a salvação de todos. 

Nos anime a certeza de que o Senhor permanece conosco (cf. Mt 28,19-20) e que podemos contar sempre com a intercessão de nossa Mãe junto ao seu Filho. Somos convidados a imitar suas virtudes durante o tempo da peregrinação da Igreja rumo à pátria definitiva (LG VIII, 65), a qual também reinará resplandecente de beleza como Maria, já assunta à glória (Ap 12). Seja Ela sempre para nós sinal de esperança e conforto (LG VIII, 68-69), renove nossas forças e não nos deixe abater na prática do bem.

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