A palavra sínodo designa o “caminhar juntos” da Igreja, isto é, fazer um caminho de comunhão, movido e orientado pelo o Espírito Santo; afinal, é do Espírito que precisamos para que o respirar da Igreja seja sempre novo, libertador de todo fechamento e reanimador de tudo o que está morto. A espiritualidade, por sua vez, é a vida de comunhão com Cristo em Deus. São Paulo nos indica os lugares em que se realiza a comunhão com Cristo: na Igreja, na oração e na caridade (cf. 1Cor 13,13). Por isso, a comunhão, mistério da Igreja, nos abre à plenitude interior da caridade, da graça e do compromisso para com o mundo contemporâneo que clama por uma espiritualidade. Sendo assim, não há como existir sínodo sem espiritualidade, pois ele não é uma grande reunião com o intuito apenas de discutir problemas e estratégias, ou “um parlamento; a sinodalidade não é apenas a discussão de problemas, das diferentes coisas que estão na sociedade. Por isso, não pode haver sinodalidade sem o Espírito, e não há Espírito sem oração” (Francisco, 2013). Dessa forma, sínodo se faz na oração e com oração; orar é, antes de tudo, escutar a Deus. Portanto, o sínodo é uma escuta que se propõe fazer-se como comunidade eclesial que escuta a voz do Espírito que fala nos irmãos, sobretudo por meio de suas esperanças e crises de fé, em suas urgências e anseios de renovações locais.
A espiritualidade cristã é caracterizada pelo seguimento de Jesus Cristo e marcada por uma experiência de encontro, conversão, comunhão, discipulado e missão. A espiritualidade não é uma realidade de outro mundo, nem mesmo uma energia, mas uma vida guiada e plasmada pelo Espírito Santo que atua na história. Ela é a própria vida do sujeito humano – individual e comunitário – que está inserido na comunidade dos crentes e busca se orientar para Deus por meio de Jesus Cristo, sob a ação do Espírito Santo. Da mesma forma acontece com a sinodalidade, que tem no coração o impulso de caminhar junto com Cristo e escutar o Espírito Santo. O Espírito Santo, por sua vez, age sempre de forma criativa no mundo. Por isso, se quisermos tocar, refletir e mudar nossa forma de ação eclesial, precisamos necessariamente escutar o que o Espírito Santo diz à Igreja: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (cf. Ap 2,7).
A espiritualidade sinodal nos desperta para a necessidade de escutarmos: isso significa que devemos respeitar o que o outro fala, fazendo o exercício de uma escuta ativa, isto é, uma escuta reflexiva que desce da mente ao coração. Escutar nem sempre é fácil, mas é necessário, e a primeira escuta que devemos fazer é a escuta do Espírito.
O objetivo principal do sínodo é fazer um discernimento espiritual e não apenas apresentar uma bela imagem de nós mesmos. O discernimento espiritual proposto pela sinodalidade é um caminho, um processo aberto, é saber para onde se vai. No discernimento espiritual, é Deus que nos faz conhecer a meta; é Ele que nos dá a ajuda para não pararmos e nos movermos sempre em direção àquilo que queremos atingir, ou seja, as fadigas e os anseios da humanidade. A espiritualidade sinodal no viés do discernimento significa, portanto, penetrar com profundidade a fim de receber do Espírito o dom vivificante de uma Igreja de olhos abertos a tudo e a todos. Se não levarmos em conta que o sínodo é caminho de discernimento, ficaremos presos ainda àquelas grandes tentações de fazermos do caminho sinodal uma espécie de “campo de batalha”, em que cada uma defende “sua bandeira”, isto é, seus próprios ideais e projetos.
A Espiritualidade sinodal é, portanto, um caminho de discernimento espiritual, e neste caminho é sempre o Senhor que nos faz conhecer, decidir e projetar caminhos para o futuro: um caminho centrado numa experiência de vida nova em Cristo, fonte e vigor de toda pastoral da Igreja.