Fizeste-nos para ti, Senhor!

Principia o longo período litúrgico em que refletiremos sobre a vida pública  de  Jesus: o Tempo Comum. Pois bem, no Antigo Testamento o cordeiro pascal é aquele cujo sangue salvou os israelitas do Egito. No Evangelho, João Batista atribui a Jesus o título de Cordeiro de Deus. Nós somos o povo do Cordeiro… que pertence totalmente a Deus (o povo e o Cordeiro!). Fomos – conforme nos recorda a 2ª Leitura – santificados em Cristo Jesus; chamados à santidade. E, pelo Batismo, somos convocados a desativar o poderio das trevas do mundo, tendo  nosso coração como ponto de partida. A palavra do evangelista João indica um caminho seguro: “Oportet illum crescere” – Convém que Ele cresça e que eu diminua (cf. Jo 3,30), que, aliás, foi o lema episcopal do amigo Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, segundo Bispo da Diocese de Guarulhos (SP). É uma exigência para a vida na graça: fazer morrer o velho homem – com seus hábitos perversos, suas imperfeições –, a fim de que a vida divina cresça em nós.

Necessitamos nos libertar das coisas que nos acorrentam, enredam e bombardeiam: o mundo com seus apelos e ofertas de falsas necessidades. Ninguém tem tempo. As tecnologias nos sufocam. Gastamos muito tempo com as coisas do mundo e pouco tempo com a glória de Deus. Para que Ele tenha espaço, equalizar melhor o tempo, é preciso! Não nos basta saber que Jesus quer dar a vida eterna; não basta nada fazer de errado. É preciso que sejamos bons. E que pratiquemos os Mandamentos. Algumas vezes, encontrei pessoas com este pensar de acomodação: estou em paz com Deus, não cometo pecado grave e vou à Missa. Todavia, isso não é tudo. É mister que atendamos ao chamamento divino para a elaboração/construção  do  céu  aqui  na  terra. Sejamos artífices do Reino de Deus… que está no meio de nós.

Uma frase de Santo Agostinho marcou definitivamente minha vida: “Fizeste-me para Ti, Senhor, e meu coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”. Lembro que, aos 14 anos, li num calendário que uma editora católica enviava à nossa casa perto do final de cada ano. Eu perambulava pelas  veredas  da  vida, estava em busca! Andava pensando, rastreando respostas   sobre caminhos, acerca do sentido da própria vida. Observava o rosto das  pessoas; queria  descobrir se eram felizes. Entrevia lacunas e tristezas.

No  Seminário, li “Confissões”, de Santo Agostinho. Ele descreve sua trajetória em busca da felicidade. Primeiro, experimentou a fama. Com a fama, veio o dinheiro, que deu a possibilidade de desfrutar o prazer. Reconheceu, porém, em tudo, um profundo vazio. Aos 33 anos, fez a maior descoberta: Deus. E, então, escreveu “Tarde Te amei”, que considero a mais arrebatadora entre todas as orações.

Pergunto-me: Onde encontro o sentido da vida? Será que já encontrei? Por que acordo e luto todos os dias? Se as razões são humanas, ligadas à vida terrena, de  que valem, se um dia acabarão? Sem as respostas, procuro convencer-me – todos os dias – desta verdade: “Fizeste-me para Ti, Senhor, e meu coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”. Que o Senhor seja o sentido de nossa vida. Agora. E depois.

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