… assim como o Senhor, seu Deus, lhe ordenou, para que você tenha uma longa vida e para que tudo vá bem com você na terra que o Senhor, seu Deus, lhe dá”. (Deuteronômio 5,16)

No dia 26, sábado, a Igreja celebra festa litúrgica de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus Cristo. O Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Papa Francisco, será celebrado no domingo, dia 27, com o tema “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança”. O objetivo é fortalecer os laços entre gerações e valorizar a experiência e sabedoria dos mais velhos como transmissores de valores, tradições e histórias familiares.
Na Bíblia, a idade avançada é frequentemente vista como uma bênção e um sinal da graça de Deus, especialmente quando associada a uma vida justa e piedosa. Embora a Sagrada Escritura reconheça que a velhice traga desafios físicos, ela também enfatiza o valor da sabedoria, experiência e liderança que os idosos podem oferecer. “A sabedoria pertence aos idosos e o entendimento aos mais velhos. Em Deus, porém, estão a sabedoria e o poder!” Jó.12. A Bíblia associa a longevidade com honra e esplendor, especialmente quando vivida em retidão.
No Brasil, o Estatuto da Pessoa Idosa, doce fruto da CF 2003 “Fraternidade e Pessoas Idosas”, define que idoso é aquele com idade a partir dos 60 anos, estabelecendo condições de prioridade em relação aos seus direitos. Foi inspirado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), especialmente no que se refere aos direitos fundamentais, tais como: o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. O Estatuto também estabelece obrigações ou deveres para a família do idoso, a comunidade e o Estado. Ele previne a violência contra o idoso, indicando o dever de comunicação, e estabelece órgãos para zelar pelo cumprimento de direitos dos idosos, que são os Conselhos do Idoso (nacional, estaduais, municipais e distrital). O Estado compromete-se a garantir a vida e a saúde, mediante políticas sociais públicas que possibilitem o envelhecimento com dignidade, liberdade e respeito. (cf. Ministério da Saúde, Governo Federal)
O último Censo demográfico no Brasil, realizado em 2022, revelou um aumento significativo na população idosa. O número de pessoas com 60 anos ou mais atingiu 32,1 milhões, representando 15,8% da população total do país. O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno crescente. A população com 60 anos ou mais cresceu em mais de 10 milhões de pessoas em relação ao censo anterior. As regiões Sul e Sudeste são as mais envelhecidas do país e há um número maior de mulheres idosas do que homens idosos, devido à maior expectativa de vida feminina. Em 2023, o índice chegou a 76,4 anos, com médias de 73,1 anos para homens e 79,7 anos para mulheres. (IBGE,2022). No entanto, o país segue atrás de muitas outras nações desenvolvidas, enfrentando desafios como desigualdade social, concentração de renda e disparidades regionais que limitam o acesso equitativo a recursos.
Na capital paulista, a expectativa de vida depende do endereço residencial. No distrito de Anhanguera, por exemplo, a idade média de morte é 58 anos, ou seja, 24 anos a menos do que no Alto de Pinheiros, que apresenta a média de 82 anos, o que significa a necessidade de maior efetividade nas políticas públicas para a parcela desfavorecida. A análise consta do Mapa da Desigualdade de São Paulo, 2024.
O agravante brutal dessas constatações é a violência contra idosos, em flagrante desacordo com os ensinamentos bíblicos e na contramão das conquistas estabelecidas no Estatuto do Idoso. A mais comum é a negligência, quando os responsáveis pelo idoso deixam de oferecer cuidados básicos, como higiene, saúde, medicamentos, proteção contra frio ou calor. O abandono vem em seguida e é considerado uma forma extrema de negligência. Acontece quando há ausência ou omissão dos familiares ou responsáveis, governamentais ou institucionais, de prestarem socorro a um idoso que precisa de proteção. Há, ainda, a violência física, quando é usada a força para obrigar os idosos a fazerem o que não desejam, ferindo-os, provocando-lhes dores, incapacidade ou até a morte. A violência psicológica ou emocional é a mais sutil das violências: inclui comportamentos que prejudicam a autoestima ou o bem-estar do idoso, entre eles, xingamentos, sustos, constrangimento, destruição de propriedade ou impedimento de que vejam amigos e familiares. Por último, há a violência financeira ou material, que é a exploração imprópria ou ilegal dos idosos ou o uso não consentido de seus recursos financeiros e patrimoniais. (Cf. antigo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – atual Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, do Governo Federal)
Com esperança, porém, vemos crescer o número de idosos que lideram movimentos sociais, que se conscientizam e reivindicam seus direitos, voluntários em ONGs, participantes de grupos de convivência e pastorais em nossas paróquias e em tantas maneiras de expressão. Sua voz se faz ouvir em conselhos municipais, em associações de bairro, em iniciativas comunitárias. Esse protagonismo muda a concepção da velhice como sinônimo de dependência ou incapacidade, mostrando que a longevidade pode, sim, ser marcada por autonomia e criatividade.
Valorizar a pessoa idosa não é apenas reconhecer sua história, mas também garantir-lhe condições dignas de vida, proteção integral e participação efetiva na construção de um Brasil mais humano e solidário. Cuidar dos idosos é cuidar de todos nós, é planejar o futuro, é uma necessidade urgente para garantir uma longevidade saudável para todos.
“Até minha velhice e idade avançada, não me desampares, ó meu Deus, até que eu tenha declarado a Tua força a esta geração e o Teu poder a todos os vindouros!” Sl.71,18