“Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 12,55)

O dia 1º de maio é popularmente conhecido como Dia Mundial do Trabalho e neste dia, para nós, católicos, encontra-se a personificação típica de Cristo, o qual quis ser classificado, na vida humana como “filho do carpinteiro” (Mt 13,55) e ser Ele próprio o trabalhador que, suportando o cansaço físico e manual, viveu a obediência àquele que, no estado civil, fazia as vezes de Seu pai (putativo) e, no ofício, de Seu mestre, São José. O texto evangélico especifica o tipo de trabalho, mediante o qual José procurava garantir a sustentação da família: o trabalho de carpinteiro. Esta simples palavra envolve toda a extensão da vida de José. Para Jesus, este período abrange os anos da vida oculta, de que fala o evangelista. Esta “submissão”, ou seja, a obediência de Jesus na casa de Nazaré é entendida também como participação no trabalho de José. Aquele que era designado como o “filho do carpinteiro” tinha aprendido o ofício de seu “pai”. Se a família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas, o é, também, analogamente o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro. Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o trabalho humano ao mistério da Redenção (Redemptoris custus 22).

O Salvador da humanidade quis ser trabalhador, estar sujeito à humildade e à fadiga do trabalho manual, deixando claro, assim, a sua humanidade na sua expressão mais simples e primitiva, mais natural e mais necessária, aquela que a vida do homem está destinada: o trabalho, expressão de amor na vida da familia de Nazaré. Somos, dessa forma, convidados a honrar o trabalho, que vemos assumido na escola de São José e por Nosso Senhor Jesus Cristo como algo digno e importante, estabelecido por Deus criador para a vida do homem, de modo que cuidassem de tudo que lhes fora disposto no dia da criação (Gn 1,28).

Sendo assim, o trabalho se torna fundamental para a dignidade de uma pessoa e nos torna semelhantes a Deus: o homem, ao fazer o trabalho, deve imitar Deus, seu Criador, porque traz em si — e somente ele — este singular elemento de semelhança com Ele. O homem deve imitar Deus quando trabalha, assim como quando repousa, dado que o mesmo Deus quis apresentar-lhe a própria obra criadora sob a forma do trabalho e sob a forma do repouso. E esta obra de Deus no mundo continua sempre, como o atestam as palavras de Cristo: “Meu Pai trabalha continuamente” (Jo 5,17) e nos dá a capacidade de contribuir para o crescimento da nação. Por isso, é pelo trabalho, também, que nos deparamos com o plano de amor de Deus que deseja que todos encontrem o pão cotidiano para se sustentar.

A consciência do trabalho e da sua dignidade deve levar a humanidade a crer, portanto, que ao exercer tal ofício, se participa na obra de Deus e isso deve impregnar todo o labor diário, prolongando a obra do Criador, no serviço aos irmãos e numa contribuição pessoal para a realização do plano providencial de Deus na história (cf. Gaudium et spes – GS 34). Essa verdade é, também, proclamada por Jesus que trabalhava, de modo que as obras do Evangelho se espalhassem: o suor e a fadiga, que o trabalho comporta necessariamente na presente condição da humanidade, proporcionam aos cristãos e a todo o homem, dado que todos são chamados a seguir a Cristo, a possibilidade de participar no amor à obra que o mesmo Cristo veio realizar (cf. Jo 17,4). Esta obra de salvação foi realizada por meio do sofrimento e da morte de cruz. Suportando o que há de penoso no trabalho em união com Cristo crucificado por nós, o homem colabora, de algum modo, com o Filho de Deus na redenção da humanidade. Mostrar-se-á como verdadeiro discípulo de Jesus, levando também ele a cruz de cada dia (Lc 9,23) nas atividades que é chamado a realizar (Laborem exercens 27).

No trabalho humano, o cristão encontra uma pequena parcela da cruz de Cristo e aceita-a com o mesmo espírito de redenção com que Cristo aceitou por nós a sua Cruz. E, graças à luz que, emanando da Ressurreição do mesmo Cristo, penetra em nós, descobrimos sempre no trabalho um vislumbre da vida nova, do novo bem, um como que anúncio dos “novos céus e da nova terra” (Ap 21,1).

O cristão, portanto, que está atento em ouvir a Palavra do Deus vivo, unindo o trabalho à oração, deve procurar saber que lugar ocupa o seu trabalho não somente no progresso terreno, mas também no desenvolvimento do Reino de Deus, para o qual todos somos chamados pela potência do Espírito Santo e pela palavra do Evangelho. Peçamos a São José Operário que encontremos vias nas quais nos possamos comprometer e até dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho, mas todos com um trabalho digno e justo.

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