Na versão da parábola do semeador, do evangelista Marcos (cf. 4,26-29), o Reino de Deus é comparado à semeadura do agricultor, quando o plantio se resumia em lançar as sementes pela terra. O trecho aludido frisa que o processo de germinação e a produção proveniente da semente permanecia um mistério ao agricultor. “Ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). Sem recursos, como os atualmente disponíveis, ao semeador restava aguardar a germinação e o desenvolvimento da planta, até o momento da ceifa.
Não obstante essa explicação, a espera serena do agricultor da parábola certamente interroga a cultura e o ser humano atual, tão “carregado de pressa”. Talvez por influência da rapidez dos processos produtivos, da instantaneidade da comunicação e acesso a informações por um click, ou ainda pelo imperativo da busca da eficácia. Esses elementos são citados na tentativa de entender o fenômeno da pressa, sobretudo nos processos vitais, e não para criticar as benesses tecnológicas.
É pertinente refletir sobre o tema, hoje facilmente constatável em realidades como o imediatismo perceptível no cotidiano das pessoas. Tal ocorrência desqualifica a importância da análise das consequências de decisões e atos, como se o semear de hoje não fosse mais importante para a colheita de amanhã, ou se o presente não terá que acertar contas no futuro. A perspectiva do carpe diem é quase regra, e resulta por exemplo nas dívidas imensas contraídas hoje, quer as de ordem socioeconômica, quer as ambientais. E pesarão sobre as gerações vindouras.
A ansiedade é outra expressão da indisposição à espera. Esta turva e transtorna a interioridade, rouba a paciência, a paz, e desemboca na insegurança etc. Assim, muitos transtornos de ordem psicológica podem ser relacionados com a indisposição em esperar e a “pressa” em resolver/fazer. Na esteira da impaciência e ansiedade em resolver, quantas cisões e mortes ocorrem, quantos projetos sucumbem sem o devido tempo de gestação.
A qualidade intrínseca da semente de dar fruto, apresentada no trecho do Evangelho citado, aponta para uma realidade específica, a dinâmica do Reino e sua emergência e concretização na história, ou seja, para a ação de Deus em meio aos processos vitais de toda ordem. E, pelo que anuncia a parábola, a emergência do Reino é uma garantia: “A terra por si mesma produz o fruto”, e a espera, vista no personagem do semeador, se alicerça nessa constatação.
Nesse sentido, a vida cristã é acompanhada invariavelmente por essa espera esperançada pela presença e atuação de Deus. É oportuna a recordação de que o Papa Francisco não se cansa de falar sobre as surpresas de Deus em prol da vida e do bom curso da historicidade. O olhar secularizado, desprovido de abertura ao transcendente, reputa como irrelevante o conselho do Papa, mas se trata de uma sensibilidade desenvolvida pelos olhos tocados pela fé em Deus vivo e comprometido com a sua criação.
Fé aguçada pela mensagem transmitida pela metáfora que contrapõe o menor e o maior, a menor das sementes e a árvore frondosa, dela derivada (cf. Mc 4,31- 32). Essa imagem, em particular, traz esperança diante das problemáticas, das dificuldades e retrocessos, dos desafios e contradições da vida humana e social, em contexto de pandemia e retrocesso político, econômico e social. Mas, perante a parábola, tudo isso é como a pequena semente da qual brotará uma árvore apreciável.
É uma parábola convidativa à renovação da “esperança para o esperar”, pois, nela, Deus garante o crescimento. O seu modo de agir amoroso é uma força capaz de vencer as artimanhas ao que se opõe aos seus desígnios, como a morte de seu Filho, a qual não representou o final do Reino, e sim a recriação de sua obra pela ressurreição de Jesus Cristo.
Que imbuídos da espera cristã, os seguidores do Senhor saibam esperar pelos sinais da emergência do Reino, e, às vezes nas “surpresas de Deus”, contribuam para conduzir a sociedade por caminhos que efetivamente levam ao crescimento e aos bons frutos do Reino.