No dia 13 de janeiro de 2012, um navio de Cruzeiro, chamado Costa Concordia, navegava junto à costa da Isola del Giglio, região da Toscana, na Itália, quando a embarcação abalroou rochas subaquáticas, e logo depois o navio naufragou. Após se chocar contra as rochas, o navio encalhou em um banco de areia próximo à ilha de Giglio. Teve seu casco quebrado, virou parcialmente submerso.
O acidente ocorreu a cerca de 40 quilômetros do continente. Dados iniciais davam conta de que entre os 3.200 passageiros e 1.023 tripulantes do Cruzeiro cerca de mil passageiros eram de nacionalidade italiana, enquanto cerca de 500 alemães e 160 franceses. Entre os hóspedes estavam cerca de 46 brasileiros. Após os salva-vidas retirarem os primeiros três corpos, constataram que mais de 70 pessoas estavam desaparecidas. O saldo final foi de 32 pessoas mortas, todas por afogamento.
Muitos passageiros foram levados para o porto de Santo Stefano, onde estavam abrigados em escolas, igrejas e outros edifícios públicos. A Defesa Civil montou uma grande tenda em que os náufragos eram identificados antes de serem levados, de ônibus, para hotéis da região. Um dos passageiros do Costa Concordia disse à imprensa italiana que, por volta das 21h30 (18h30 no horário de Brasília), “todos estavam jantando quando a luz apagou, houve um tranco e os pratos caíram da mesa”. O navio, que partira de Civitavecchia, na região de Roma, faria um cruzeiro de uma semana pelo Mar Mediterrâneo com escalas programadas pelas cidades de Savona, Marselha, Barcelona, Palma de Mallorca, Cagliari e Palermo.
O Costa Concordia, de 290 metros, pesando 112 mil toneladas, tinha 58 suítes e balcão, cinco restaurantes, 13 bares e quatro piscinas. O comandante Francesco Schettino foi condenado, em fevereiro de 2015, a 16 anos de prisão efetiva pelos homicídios, abandono do navio e naufrágio, pena confirmada por um tribunal de recurso em maio de 2016.
Talvez muita gente tenha recordações dessa tragédia. Afinal, havia brasileiros. Mas o que valeria a pena também recordar é que, nos dias que se seguiram, conforme os sobreviventes brasileiros iam chegando de volta ao Brasil, uma coisa parecia contraditória: eles tinham visto fracassar o sonho de uma viagem de lazer, tinham perdido tudo o que levaram, viram um plano de deleites e prazeres se transformar, de uma hora para outra, num verdadeiro “filme de horror”. Devem ter passado muito medo, insegurança, sentimento de perda, talvez alguns traumas por presenciarem a morte de muitos ocupantes da mesma embarcação etc. Porém, dentre os que chegavam ao Brasil, segundo as entrevistas dos meios de comunicação, não havia ninguém lamentando suas perdas ou frustrações. Não se via ninguém de rosto triste, mas um sorriso enfeitava aqueles belos semblantes de sobreviventes. Muitas lágrimas embalavam aquela dramática chegada, mas eram de alegria e alívio nos encontros e abraços emocionantes e emocionados.
Em um momento como esse, podia-se sentir a certeza de que todos tinham sobre a desproporção do valor de tudo o que podiam ter e sonhar, e que perderam, e o valor inestimável da vida que, naquele momento, parecia ter sido perdida por um tempo, mas que foi reencontrada. Quem sabe uma recordação assim não poderia nos ajudar a pensar no valor das coisas com as quais nos acostumamos, que são as mais caras, mas que, infelizmente, quase sempre, ficam relegadas a segundo plano. É uma graça maravilhosa descobrir o valor das coisas que temos, sem precisar perdê-las, para aprender com a falta aquilo que não aprendemos com o dom.