Na mitologia grega, Kronos era o deus do tempo. Mas, do tempo que se conta, que se mede. Portanto, do tempo quantificado, em que um minuto é igual ao outro, em que as horas são sucedidas pelos dias e os meses pelos anos. Era representado como um velho tirano e cheio de crueldade; controlava o tempo desde o nascimento até a morte. De certa forma, ditava aos mortais o que deveria ser realizado.
O nome do tempo Kronos está na etimologia da palavra cronômetro, que designa o aparelho usado para medir o tempo. Então, Kronos é o tempo do calendário e do cronômetro. Nosso mundo parece dominado por esse conceito. O tempo parece nosso inimigo. Vivemos correndo atrás do prejuízo porque “Tempo é dinheiro!”.
Na mitologia, Kronos emasculou o próprio pai com a intenção de se apoderar do mundo. Mais tarde, como senhor do tempo, devorou os próprios filhos para continuar soberano. Parece simples, mas a questão é por demais complexa. Note-se que o tempo não tem o mesmo efeito sobre todas as pessoas. Para os jovens, os dias passam correndo e os anos custam a passar; para os velhos, os anos passam rapidamente e o dia parece não passar. Embora absoluto, o tempo tem um quê de relativo.
Santo Agostinho dizia nas suas confissões: “Se ninguém me perguntar [o que é o tempo], eu sei; se quiser explicá-lo a quem fizer a pergunta, já não sei”. Então, o mistério do tempo não pode ser explicado, mas precisa ser vivido. E como vivê-lo? A mitologia grega, ao lado de Kronos, trazia Kairós, o deus do tempo-oportunidade, do momento propício. Era retratado como um jovem calvo com apenas um cacho de cabelos na testa, tinha uma agilidade sem igual, possuindo asas nos ombros e calcanhares. Corria rapidamente e só era possível detê-lo agarrando-o pelos cabelos, encarando-o. Depois que passava, era impossível trazê-lo de volta. Por ser tão rápido, podia não ser percebido pelos desatentos. Ele nos faz pensar que o que mais importa não é o tempo passado nem o futuro, mas o tempo presente. E nos ensina que é preciso ocupar-nos com o presente porque, se estivermos desatentos, o tempo passa e perdemos a ocasião de aproveitar o que existe e o que acontece em cada momento.
O Papa Francisco costuma dizer que “O tempo pertence a Deus, mas o momento pertence ao ser humano”. Já a Sagrada Escritura nos ensina: “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de destruir e tempo de construir; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de as ajuntar; tempo de abraçar e tempo de se afastar dos abraços; tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora; tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar; tempo do amor e tempo do ódio; tempo de guerra e tempo da paz” (Ecl 3,1-8). Então, a sabedoria humana, no que se refere ao tempo, consiste em conhecer o momento oportuno para cada coisa, tal qual dizia Jesus: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Sabeis avaliar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo presente?” (Lc 12,54-56). Também é sabedoria entender que o tempo, para ser bem vivido, depende de estabelecermos uma boa relação com ele; de não corrermos atrás dele e de não fugirmos dele. Assim dizia Mário Lago, ator e autor de sambas populares: “Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra”.