O Evangelho conta que “foram ter com Jesus os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém e repararam que os seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. Pois os fariseus, e todos os judeus, guardando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente (Mc 7,1-3). De fato, era costume lavar pelo menos a mão direita, que era a que mais se utilizava para comer.
Jesus respondeu “este povo honra-me com os lábios; mas seu coração está longe de mim” (Mc 7,5-6).
Na verdade, o fato lavar as mãos não era apenas motivado pela higiene, mas tinha um significado religioso: essa pureza ritual era símbolo da pureza de comportamento, da pureza interior, da pureza de coração com que as pessoas deviam apresentar-se diante de Deus. Jesus não desprezava essas tradições, mas queria mostrar-lhes o erro de preocupar-se mais com as formas do que com o essencial: o coração. “E chamando a si outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós todos, e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, possa contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é que o contamina. (…) Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem (Mc 7,14-15; 21-23).
Ele se queixa das pessoas que rezam apenas da boca para fora, porque seu coração está longe. Não adianta apenas falar coisas boas, não adiantam os bons desejos ou as boas intenções: Deus quer o nosso coração, espera de nós boas obras. Para termos o coração puro, devemos combater o pecado dentro de nós. Jesus menciona vários tipos de pecados: maus desejos, maldades, juízos críticos sobre os outros, imaginações contra a castidade e a fidelidade, a raiva, a ambição de possuir, de enganar nos negócios, de roubar, inveja (desejar o mal aos outros), a calúnia (ofensas mentirosas, acusações falsas), orgulho de não reconhecer os próprios erros. As críticas interiores, os juízos precipitados, as suspeitas temerárias, tudo isso são pecados interiores, aos que, muitas vezes, não damos a importância que têm.
Às vezes, podemos sentir-nos autorizados a falar mal, a denegrir, a achincalhar a conduta de pessoas que consideramos serem más, porque os erros e os pecados dos outros parecem muito grandes em comparação com os nossos. Se nos arvoramos no direito de julgar os outros é sinal de que nos consideramos superiores ou isentos: aqui está o erro.
São Josemaría, em uma ocasião, enquanto estava dando a Comunhão a umas monjas de clausura, rezava interiormente: “Senhor, eu te amo mais do esta!” E Deus respondeu em seu coração: “obras é que são amores, e não boas razões!” Uma advertência clara para todos nós: não bastam as palavras bonitas e os bons desejos, o que conta são as boas obras realizadas com amor e generosidade. Ou seja, não basta não fazer o mal aos outros, mas o que conte é a prática da caridade com as pessoas que estão à nossa volta, as pessoas com quem nos encontramos. O que eu e você fazemos de bom aos outros? Como atendemos as pessoas? Como as ajudamos?