O Papa Francisco nos convidou neste ano de 2024 à oração, a fim de que nos prepararemos para o Jubileu Ordinário de 2025. Tal convite foi precedido de uma pergunta feita pelo Papa: “Como se preparar para este evento tão importante para a vida da Igreja senão por meio da oração?” A pergunta contém tesouros a serem descobertos e por isso é feita a nós, povo de Deus, e nos instiga, nos interroga a redescobrirmos o valor e a importância da oração para a nossa vida de fé. Sem a oração, a fé perde a sua vitalidade e a vida cristã se torna fraca. Não se pode ser cristão por muito tempo sem a oração. Do mesmo modo, não é possível viver sem respirar; a oração é o respiro da fé. Precisamos da oração para nos mantermos espiritualmente sadios. Entretanto, só se pode rezar a partir de uma fé viva e, consequentemente, a fé só pode ser viva se rezamos (Romano Guardini, Introdução à vida de oração, p.18).
Oração e fé, se auto ”reclamam”, pois estão intimamente unidas; não é uma atividade que se possa fazer ou deixar de fazer sem que a fé não seja afetada por isso. A oração é o nosso primeiro serviço, é a expressão mais elementar, é contato com Deus para quem a fé se oriente. Este ano dedicado à oração não atrapalha ou aumenta nossas atividades pastorais. Ao contrário, este ano retoma o fundamento sobre o qual estão alicerçados todos os planos pastorais, pois toda pastoral e, consequentemente, os planos pastorais devem encontrar na oração sua consistência (Papa Francisco, Rezar hoje, p.8). Uma pastoral sem oração é vazia de conteúdo e desprovida de força para cumprir sua missão.
O Papa nos indica, ainda, que este ano dedicado à oração “é um tempo significativo para aumentar a certeza da fé. É um tempo no qual, de maneira pessoal e comunitária, podemos redescobrir a alegria de orar na variedade de formas e expressões. Um ano para fazer experiência de uma escola de oração, sem pressupor nada como óbvio ou garantido, especialmente em relação ao nosso modo de rezar, mas cada dia fazendo nossas palavras as palavras dos Discípulos que pediram a Jesus: “Senhor ensina-nos a orar (cf. Lc 11,1)” (Papa Francisco, Rezar hoje, p.8).
Diante deste apelo do Papa, somos convidados a vencer nossas resistências e até certa dificuldade ao falar de oração. Por isso, o grande convite à oração é também um convite a nos tornarmos humildes, isto significa dizer que não podemos chegar na oração confiando em nós mesmos, pois orar é confiar em Deus, é abrir-se ao Espírito Santo. A oração é fruto do “Espírito que reza em nós” (cf. Rm 8,26). Assim, a oração consiste em escutar o Espírito, dando-lhe espaço e dando-lhe voz, para aja e fale em nós e por nós.
Rezamos as coisas do Espírito, para que Deus tire tudo o que temos de maldade em nossos corações. Por isso, o motivo da oração, o motivo pelo qual devemos rezar, é o de, primeiro, tirar a maldade do coração humano. Afinal, sem a oração, nós nos tornamos potencialmente um mal para os outros. É por meio da oração que Jesus no dá o seu amor, sua misericórdia e a sua compaixão. A oração, por sua vez, não pode ser estéril: necessariamente, deve nos levar à uma prática, ou seja, o fruto da oração deve ser a caridade. Como nos recordava Santa Teresa de Calcutá: “O fruto do nosso trabalho, a capacidade de o realizar resulta da oração. O fruto do nosso trabalho é nossa união com Cristo” (Oração: Frescor de uma fonte, p.74)
A oração é diálogo com Deus: ela nos introduz no coração de Deus e no próprio mistério de suas e de nossas decisões. O desafio da oração consiste, portanto, em não deixar que façamos dela um monólogo, um discurso, mas uma conversa, um diálogo. Jesus se apresenta como mestre da oração, Ele nos ensina como devemos rezar: “Nas vossas orações não useis vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos” (cf. Mt 6,7). O aspecto singular da oração de Jesus se fundamenta na comunhão do Filho com o Pai. Jesus reza ao Pai antes de ressuscitar Lázaro rezou: “Pai, dou-te graças porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para quem creiam que me enviaste” (cf. Jo, 11,41-42). Toda oração é sempre dirigida ao Pai, no Filho na força do Espírito, é uma experiência de comunhão que nos une a Jesus e nos dá força para fazermos a vontade do Pai. A oração abre espaço para Deus em nossa vida e em nossa história. É um grito que silencioso sai do nosso coração que crê e confia em Deus; é o grito de Pedro (cf. Mt 14,30), da mulher hemorroíssa (cf. Mc 5,28), de Jesus na cruz (cf. Mt 27,46). Orar, portanto, é gritar a partir da nossa pobreza, da nossa indigência. Entretanto, a oração não é fácil, pois exige que permitamos que Deus entre no centro do nosso ser, permitindo-Lhe que toque no nosso âmago e permitindo ver tudo o que gostaríamos de deixar escondido.
Enfim, oração é escutar Deus! Isto significa que o essencial não está no que dizemos, mas naquilo que Deus nos diz. Neste esteio, o passo primordial para a oração é o recolhimento, o silêncio: “Se queremos rezar, temos de aprender a escutar primeiro porque Deus fala no silêncio do coração” (Oração: frescor de uma fonte, p. 39). Portanto, fazer silêncio consiste em tomar consciência de si mesmo, do próprio estado emocional, da própria mente, do próprio coração, do próprio corpo e todo ser. É situar-se para além dos ruídos externos e internos para chegar ao seu eu profundo onde simplesmente possamos dizer: “eu sou, estou”.