Jesus atraía muitas pessoas porque falava a partir daquilo que o povo já tinha certa familiaridade. Fazia comparações com o jeito como os agricultores faziam suas plantações, com situações rotineiras que aconteciam nas cozinhas onde as mulheres manipulavam os alimentos, com a natureza quando soprava o vento… Da sabedoria popular, dos provérbios do povo, brotava inspiração para falar do Reino.
Gosto muito de um provérbio africano que diz: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco conhecidos, consegue mudanças extraordinárias”. Não fala de Deus, mas lembra o fermento na massa, a semente de mostarda, o sal na comida, a pequena Belém, os desconhecidos José e Maria. Quanta coisa extraordinária que brotou daquilo que parecia insignificante. Podemos até pensar na força das pequenas comunidades eclesiais missionárias.
O livro do Eclesiástico é um “livro de resistência capaz de reavivar a memória histórica de um povo, desmascarando a linguagem e ideologia dos opressores” (José Bortolini). Para tanto, recolhe os saberes do povo que são extremamente reveladores. Do povo da roça se refere à peneira e à árvore: “Quando a gente sacode a peneira, ficam nela só os refugos”; “O fruto revela como a árvore foi cultivada”. Da realidade urbana o artesão: “O forno prova o vaso do oleiro”. E conclui: “Não elogies a ninguém antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela”. É uma crítica à linguagem de tape- ação empregada pelos que se impunham com um discurso agradável e promessas enganadoras. A gente costuma dizer que as aparências enganam. O importante é ir peneirando para ver se não ficam só os refugos, observar se, como uma árvore, produzem frutos azedos ou se, como um vaso, estouram quando cobrados com mais firmeza. Tenhamos a certeza de que “o tempo da crueldade passará, o tempo dos homens mínimos passará”.
“Pode um cego guiar outro cego? Primeiro tira a trave que está no teu olho para depois tirar o cisco do olho do teu irmão.” Com palavras e textos de fácil compreensão, Jesus alerta seus discípulos que queriam ser orientadores de outras pessoas, mas estavam cheios de defeitos, querendo corrigir, sendo até mesmo duros com os outros, mas maleáveis com seus próprios defeitos. São como árvores frutíferas que estão cheias de folhas, mas não passam disso, fruto que é bom não se encontra, ou pior, produzem espinhos que machucam e repelem as pessoas.
Jesus fala que são hipócritas, pessoas que continuamente estão a encontrar defeitos nos outros, mas nunca se perguntam se aquilo que detestam nos outros não se encontra, em medida ainda maior, nelas mesmas. Jesus diz que é preciso cuidar do coração, “recipiente” onde se guardam os “tesouros” que possuímos, porque a boca fala do que o coração está cheio, e, se não tiver cheio de coisas boas, “o peixe vai morrer pela boca”. Na próxima semana, vamos começar a Quaresma, tempo forte de conversão. Daremos início à Campanha da Fraternidade, que vai nos dizer que é preciso “falar com sabedoria, ensinar com amor”. Teremos a oportunidade de ver a realidade da Educação em nosso País tendo em mente aquele provérbio africano que diz: “Há coisas que só podem ser vistas a partir dos olhos de quem chorou”. E iluminados pela Palavra, num Pacto Educativo Global, avançaremos juntos “cuidando do broto para que a vida nos dê flor e fruto”. Vivamos intensamente este tempo novo que está chegando.