Quaresma: tempo de compromisso de amor

A nossa caminhada quaresmal de 2021, ano de grandes desafios políticos, econômicos, sociais, sanitários e religiosos, entre outros, segue em direção ao núcleo central deste tempo litúrgico, o Tríduo Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É um tempo propício para uma profunda revisão de vida, de conversão pessoal e comunitária. 

Os exercícios quaresmais do jejum, da oração e da esmola são para nós, cristãos, um apelo a nos voltarmos para o que é essencial na vida cristã: a fé em Jesus e nas suas palavras (cf. Jo 14,1). O jejum coloca-nos em sintonia com os que mais sofrem: os doentes, os pobres, as famílias enlutadas, os irmãos que passam privação de alimentos, de acesso à saúde, à educação, à moradia, a uma vida digna. Convida-nos a compartilhar a alegria, a saúde, a cultura, a fé, os bens como testemunho da nossa adesão a Cristo e ao seu projeto de amor para a humanidade. 

O jejum convida-nos também a nos libertar da indiferença, da mentira, do ódio, do comodismo, do “não é comigo” – livres desses males que nos alienam e nos tornam insensíveis ao sofrimento do próximo –, somos habilitados pela escuta atenta da Palavra de Deus a uma vida de oração, de verdadeiro diálogo com Deus e com o próximo, como “compromisso de amor” (cf. Manual da Campanha da Fraternidade Ecumênica – CFE 2021). Rezar é dialogar com Deus, que nos fala do seu amor e da sua vontade. Ao escutá-lo, somos capazes de dar respostas também de amor e de misericórdia (cf. Lc 6,36-38). 

A vivência da prática do jejum, da oração e da caridade é caminho seguro para uma verdadeira conversão. Toda pessoa que se abre a Deus numa relação sincera de confiança, de humildade e de dependência filial no amor se torna incapaz de virar as costas para o próximo, sobretudo para os que mais sofrem, pois descobre Deus que a convida ao serviço (cf. Mc 10,43-45), à fraternidade, ao diálogo como “compromisso de amor”. Conversão é isto: é deixar Deus agir em nós, habitar em nós, apesar de nossos medos, incertezas, preconceitos, dos nossos muitos pecados. Sua presença provoca em nós mudanças de vida. 

A CFE deste ano, cujo tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, busca nos ajudar no processo de conversão, para assumirmos compromissos verdadeiros com Deus e entre nós. Não deixemos que os nossos preconceitos, farisaísmos, falsos moralismos e interesses escusos impeçam a boa convivência entre nós, homens e mulheres, católicos ou não, “santos ou pecadores”. Que o respeito, a fraternidade e o diálogo sejam para nós saborosos frutos do nosso reconhecimento da necessidade de verdadeira conversão e da nossa disposição de mudar de vida, amando-nos uns aos outros, como Jesus nos amou (cf. Jo 13,34-35). Este é o sentido da caminhada quaresmal, da Páscoa de Jesus Cristo, da vida de todo cristão e de toda pessoa: viver a plenitude do amor, servindo uns aos outros no amor e no serviço, como Jesus nos ensinou.

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