Estamos no tempo litúrgico da Quaresma, que nos prepara para a celebração da Páscoa gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na tradição cristã, a Quaresma é tempo de conversão e penitência: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). O caminho de reconciliação e perdão, durante 40 dias, se faz por meio do exercício da oração, do jejum e da esmola (a caridade). De fato, esses pilares se constituem como condições para a conversão e a exprimem, pelo nosso modo de viver e testemunhar o Evangelho. Uma intensa vida espiritual nos permite mergulhar nos mistérios da vida, da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus, celebrar a Páscoa.
Os prefácios eucarísticos para o tempo da Quaresma definem bem o seu profundo sentido espiritual. Recordam que devemos nos preparar para celebrar os mistérios pascais com o coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno. Foram esses mistérios que nos resgataram da morte, nos deram vida nova, nos salvaram (cf. Prefácio Quaresma I). Não só, mas pela penitência quaresmal, somos chamados a corrigir nossos vícios, elevar e purificar nossos sentimentos, fortificar o amor fraterno (cf. Prefácio Quaresma IV). Trata-se, realmente, de um caminho que exige muito esforço, paciente perseverança, desejo sincero de mudança, busca do perdão e da misericórdia na fidelidade a Cristo e ao Evangelho, abertura do coração a Deus e aos irmãos, um horizonte pascal de verdadeira passagem da morte para a plena vida.
A necessidade das práticas quaresmais foi realçada pelo Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma deste ano: “O jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6,1-18) – são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”.
Um caminho de profunda e sincera conversão se faz, entre outros, pela oração intensa e constante. Rezando sempre – como rezou Jesus, reza a Igreja –, aprendemos a rezar em nossas famílias e comunidades. O próprio Jesus rezava, sua intimidade com o Pai nos revela a natureza de toda oração. Jesus aprendeu a rezar na sua família e na sinagoga, e nos lembrou de que quando oramos não devemos usar muitas palavras como fazem os hipócritas e fariseus, e nos ensinou a rezar assim: “Pai nosso…” (cf. Lc 11,1-4). Sim, a oração é um diálogo filial, profundo e único com o Pai. Sua vida era uma oração contínua, em meio ao intenso ministério. Rezava nos momentos decisivos, como na tentação do deserto, a escolha dos apóstolos, na crucifixão. Na solidão, de noite, na madrugada, retirava-se para orar. Na morte, viveu a mais profunda angústia humana, e, mesmo nesta hora, confiou ao Pai sua vida: “Abbá! Pai! Tudo é possível para ti. Afasta de mim este cálice! Mas seja feito não o que eu quero, porém o que tu queres” (Mc 14,36). Eis o sentido da oração: cumprir a vontade de Deus, abrir o coração, dispor-se à conversão, passar pela morte e o sofrimento. Por isso, a Quaresma é tempo de rezar sem cessar, avivar a fé, fortalecer a esperança e doar-se plenamente ao serviço dos irmãos, com amor.
Nesta Quaresma, vamos aprender a orar com Jesus, entrar na sua intimidade e confiança infinita, associar-nos à sua oração e deixar-nos levar por Ele, no caminho, até o coração do Pai. Nos exercícios quaresmais, deixemo-nos iluminar e conduzir pelo lema da Campanha da Fraternidade “Cristo é a nossa paz”. Vivamos na oração e na paz, em fraternidade e diálogo, como nosso grande compromisso de amor.