Como vemos no Evangelho do domingo passado, a maneira como Jesus realiza a cura do surdo mudo é diferente das demais, porque não é imediata e instantânea, mas segue um pequeno procedimento. Primeiro, Jesus levou o homem a um lugar à parte, colocou o dedo nos seus ouvidos e tocou sua língua com a saliva. Depois elevou os olhos para o céu e disse: Effetha!, o que significa: “Abre-te!” E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e falava claramente. Ainda que a cura tenha resultado das palavras de Cristo, o Senhor quis utilizar nesta ocasião, como aliás em outras, alguns elementos materiais visíveis, para dar a entender de alguma maneira a ação mais profunda que os sacramentos iriam efetuar nas almas. Vemos nessa cura uma imagem da ação de Deus nas almas: liberta dos pecados, abre o ouvido para escutar a Palavra divina, permite a língua proclamar a boa nova.
Todos nós, de certa maneira, precisamos receber a graça da cura da nossa surdez e da nossa incapacidade de falar, porque muitas vezes somos surdos e não escutamos os chamados de Deus, não entendemos as suas palavras, não percebemos que Deus nos fala de diversas maneiras: no silêncio do coração, na leitura de uma passagem bíblica, nos pedidos das pessoas etc. Muitas vezes Deus nos fala através dos acontecimentos, das necessidades das pessoas, como, por exemplo, nos pede que terminemos nossas tarefas, porque há pessoas que dependem delas. Deus também está falando algo conosco quando sentimos uma certa inquietação em nosso coração: não nos sentimos plenamente contentes e achamos que os culpados são os outros, quando isso não corresponde à verdade, mas não queremos aceitar. Há pessoas que desejariam escutar a voz de Deus, mas não o conseguem porque fogem do silêncio, porque andam o dia todo numa agitação contínua e Deus costuma falar no momento de recolhimento e não no meio do turbilhão de sons, de sentimentos, de sensações etc. Outro momento em que devemos abrir a nossa língua: quando nos aproximamos da Confissão, devemos falar tudo o que nos pesa no coração e ouvir os conselhos do sacerdote.
Por outro lado, Deus nos dá o dom da palavra, como fez ao homem no Evangelho, e espera que a utilizemos para edificar as pessoas, para instruir dando bons conselhos e falar das coisas de Deus. Quando foi a última vez que você e eu falamos de Deus para alguém? Ficamos mudos e nos omitimos quando alguém se comporta de maneira equivocada e nós não dizemos nada. Ou quando as pessoas esperam de nós uma palavra de atenção, um retorno a seus pedidos legítimos e não nos manifestamos. Não devemos permanecer calados quando a justiça e a caridade nos recomendam falar: os pais a seus filhos, ensinando-lhes desde pequenos as orações e os fundamentos da fé; os amigos quando surge uma ocasião oportuna, ou tomando iniciativa de conversar sobre alguma questão de atualidade relativa à fé cristã; os estudantes, de tratar de temas de interesse para a formação humana de seus colegas, com quem passam muitas horas juntos. Há momentos em que se espera de nós uma palavra que consola: no falecimento de um familiar; na visita a um doente, ou quando se comenta uma notícia caluniosa sobre uma pessoa ausente. São muitos os motivos para falar da beleza na nossa fé católica, da alegria de viver perto de Jesus Cristo Nosso Senhor, do amor materno de Nossa Mãe Maria Santíssima etc.