Santidade: um caminho a percorrer

O Papa Francisco, em sua exortação apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual, nos recorda que esta é uma questão de caminho (Gaudete et exsultate – GE, nº19). Dessa forma, falar de santidade é falar de uma estrada que tem a vontade de Deus como fundamento: “a vontade de Deus é que sejais santos” (1Ts 4,3). Assim, quando falamos de caminho de santidade, tratamos de um programa, ou ainda, um projeto de santidade. Na verdade, nós nos perguntamos: é possível existir um programa de santidade? Essa pergunta pode ser considerada retórica, uma vez que a santidade é, antes de tudo, um chamado que Deus faz a toda pessoa humana, desde a sua concepção. Portanto, podemos afirmar que a santidade é o imperativo de vida daqueles que creem.

Dessa forma, ao tratarmos da santidade, frente à pessoa humana, tratamos, de igual maneira, da antropologia existente no chamado a sermos santos, uma vez que este toca o tecido frágil da humanidade. Não se trata, entretanto, de criar outro caminho eclesial e pastoral que vise a salvaguardar apenas a santidade, afinal, todo trabalho pastoral tem como objetivo alcançar a santidade, conforme afirma o Papa São João Paulo II em sua carta apostólica Novo millennio ineunte (NMI, no30). Assim, para nós que assumimos a vida cristã no Batismo, todo empenho pastoral, todas as ações pastorais, as pastorais de que você, caro leitor, participa, têm como objetivo alcançar a santidade.

Sendo assim, santidade e vida cristã são um pleonasmo: falar de vida cristã é falar de santidade; falar de ser cristão é falar de ser santo. Isso faz com que esses conceitos se tornem inseparáveis e, na mesma medida, de igual urgência. Se precisamos ser cristãos com testemunho de vida no mundo contemporâneo, igualmente precisamos ser santos com testemunho de vida no mundo igualmente contemporâneo. Esse convite feito a todos, para que sejamos santos, é um imperativo da fé, e uma necessidade de crer, pois quem crê deve viver com a vida de amor e testemunhá-la no cotidiano (GE, nº14). Santo é aquele que testemunha o amor e a fé. Em palavras mais brandas, a fé reclama a santidade e a santidade autorreclama a fé. A santidade, então, é o efeito colateral do ato de crer, é viver em um amor não professado apenas com os lábios, mas um amor que ama com a própria vida, com o testemunho.

O caminho de santidade que se descortina diante dos nossos olhos nos ajuda a perceber que a santidade deve ser o sentido da vida cristã. Sendo assim, no âmbito da vida cristã, não deve existir uma outra busca de sentido de ser cristão, pois o sentido da vida cristã é exatamente a santidade. Eis aí o grande desafio: integrarmos a santidade no cotidiano da nossa vida, fazermos da santidade um estilo de vida. O estilo de vida diz muito sobre alguém: demonstra as opções que aquela pessoa fez e o que ela crê.

A abertura à santidade como forma de viver, portanto, exige a superação das armadilhas do individualismo contemporâneo, buscando uma ética da solidariedade e do reconhecimento da dignidade de cada pessoa humana. Este anseio deve nascer em um espaço de comunhão com a Igreja que, conduzida pelo Espírito do Senhor, caminha na história; significa discernir os valores evangélicos na vida cotidiana a partir do encontro com o Mestre, tendo presente a essência do ensinamento de Jesus: fazer a vontade do Pai (cf. Jo 6,38).

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários