Celebramos no sábado, 26 de junho, a festa de São Josemaría, o santo do cotidiano. Sempre me impressionou aquela professora de piano – boa católica – que ficou entusiasmada com uma descoberta: “Ao folhear o missal, não pude deixar de me desiludir ao verificar que todas as santas foram freiras, virgens, mártires ou, pelo menos, viúvas, conclui, não sem uma ponta de humor, Wilhelmine Burkhart, mãe de família, professora de Música em Viena [Áustria]: ‘Que satisfação pensar que não só o esforço e o sofrimento, mas também as atividades humanas que nos enchem de alegria – como é para mim compor ou ensinar música –, podem transformar-se numa oração contínua. Dezenas de milhares de pessoas devem este caminho a Josemaría Escrivá’”.
A professora Wilhelmine Burkhart conheceu São Josemaría por meio do seu filho mais velho, membro do Opus Dei. Em 24 de setembro de 1971, foi visitá-lo em Roma, e pôde estar também com Monsenhor Escrivá. Seu filho lhe traduzia do castelhano as palavras que falavam de servir a Igreja com alegria, cada um no seu lugar: “Tu podes transformar a tua arte em oração”, disse-lhe São Josemaría.
O Papa São João Paulo II, na homilia por ocasião da canonização do fundador do Opus Dei, em 6 de outubro de 2002, ensinava que “São Josemaría foi escolhido pelo Senhor para anunciar a vocação universal à santidade e mostrar que a vida de todos os dias e a atividade corriqueira são caminho de santificação. Podemos dizer que foi o santo do cotidiano. De fato, estava convencido de que, para quem vive sob a ótica da fé, todas as coisas são ocasião de um encontro com Deus, todas se tornam um estímulo para a oração. Vista desta forma, a vida cotidiana revela uma grandeza insuspeitada. A santidade apresenta-se verdadeiramente ao alcance de todos”.
Desde 1928, São Josemaría Escrivá ensinou que o trabalho de cada dia não é alheio aos planos de Deus acerca das nossas vidas. O compromisso de ser cristão não se reduz a uns momentos de oração ou à participação na celebração dominical. Não podemos levar uma vida dupla, dizia: por um lado o trabalho de todos os dias, com suas exigências de horário, de atenção aos compromissos; por outro, completamente separada, a vida de relação com Deus. Como se fôssemos duas pessoas: uma de segunda a sexta-feira e outra de sábado e domingo.
De diversas maneiras e com expressões vivas, São Josemaría faz propostas interessantes como estas, por exemplo: “Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração” (“Caminho”, 335). Ou então, “Antes ‘só’ descascava batatas, agora, santifica-se descascando batatas” (“Sulco”, 498). Trabalho e oração devem estar unidos: é missão dos leigos santificar as realidades terrenas e transformar o trabalho em oração e em apostolado. Oferecendo a Deus cada tarefa e esforçando-se por trabalhar com ordem, com intensidade, competência, sentido de responsabilidade e espírito de serviço.
A vocação universal à santidade é hoje doutrina solenemente proclamada pelo Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis cristãos, nas condições, ofícios ou circunstâncias de sua vida, e por meio disso tudo, dia a dia mais se santificarão, se com fé tudo aceitam da mão do Pai celeste e cooperam com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo” (Lumen gentium, 41).
Sabemos, contudo, que manter essa união com Deus ao longo do dia exige, de ordinário, receber uma contínua assistência espiritual. Por isso, alguém comparou o trabalho da Prelazia do Opus Dei a um posto de serviços: o motorista estaciona o seu veículo para abastecer de combustível, verificar o nível do óleo do motor e a pressão dos pneus etc. A partir daí, pode continuar circulando com segurança. O mesmo serviço espiritual é oferecido aos fiéis leigos: recebem o “reabastecimento” de sua vida interior para sair novamente a desempenhar a sua tarefa de santificação do trabalho cotidiano, fazendo o seu apostolado em todos os ambientes: nas relações familiares, profissionais, religiosas e sociais.