A Igreja celebra, em 23 de setembro, a memória de São Pio de Pietrelcina, um santo sacerdote do nosso tempo, falecido em 1968 e canonizado em 2002. Mesmo sendo sempre um bom religioso, enfrentou durante a sua vida todo tipo de sofrimento: a perseguição dos colegas, as calúnias, a incompreensão por parte dos superiores e de autoridades da Igreja. Ao mesmo tempo, era um verdadeiro místico: em suas celebrações eucarísticas, tinha visões, entrava em êxtases. Além disso, tinha o dom de realizar milagres, fazer profecias, desvendar os corações dos penitentes que se confessavam com ele. São João Paulo II, ainda como Bispo Auxiliar de Cracóvia, na Polônia, tinha veneração por ele e, por seu intermédio, conseguiu o milagre da cura do câncer de uma senhora polonesa.
Outra característica surpreendente para um santo do nosso tempo: a presença dos estigmas nas mãos, nos pés e no peito, como sinal da sua identificação com as chagas de Cristo. Frei Raniero Cantalamessa, capuchinho como o Padre Pio, explica que os seus “estigmas não eram um troféu de glória, mas justa punição de Deus pelos pecados dos homens. Suscitavam-lhe pavor, não prazer. Era o que tinham sido para Jesus, na Cruz”. De fato, o Padre Pio nos ensinava que “o amor se conhece na dor” e dizia: “Nada desejo, exceto amar e sofrer”.
O Padre Pio deixa uma mensagem muito importante para toda a Igreja: antes de tudo, o amor a Cristo crucificado e à Virgem Maria, que são os grandes amores que guiaram e orientaram toda a sua vida. Fazer a vontade de Deus, fazer aquilo que o Senhor quer, também quando o Senhor quer. Queremos aprender deste santo sacerdote a demonstrar nosso amor a Jesus crucificado com a nossa disposição de abraçar as cruzes diárias, a não nos conformarmos em fazer o mínimo, porque o amor – tanto divino quanto humano – se manifesta na doação generosa de nós mesmos, na disposição de nos sacrificarmos por Deus e pelas pessoas. Como São Josemaría nos ensina, precisamos ter uma postura clara diante da presença da cruz em nossas vidas: “Há no ambiente uma espécie de medo à Cruz, à Cruz do Senhor. É porque começaram a chamar cruzes a todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida, e não sabem levá-las com sentido de filhos de Deus, com visão sobrenatural. Até arrancam as cruzes que os nossos avós plantaram pelos caminhos… Na Paixão, a Cruz deixou de ser símbolo de castigo para se converter em sinal de vitória. A Cruz é o emblema do Redentor: in quo est salus, vita et resurrectio nostra – ali está a nossa saúde, a nossa vida e a nossa ressurreição” (Via Sacra, II, 5).
A esse propósito, lembro-me da história daquele rapaz que amava muito a sua namorada: trabalhava o dia inteiro e estudava à noite, com o propósito de juntar umas reservas para poder se casar com ela. Como não podia visitá-la todos os fins de semana, escrevia cartinhas de amor (eram tempos em que não havia a facilidade de hoje com o uso do celular com mensagens, áudios, vídeos etc.), em que declarava seu desejo de se casar e, por isso, explicava que não poderia vê-la como desejava, em razão das provas e trabalhos que devia realizar. Assim, as semanas foram-se passando e ele, na maior parte das vezes, somente podia enviar uma carta à namorada. Adiantando-nos ao final da história: a moça acabou se casando com o carteiro… porque, na prática, quem se sacrificava todas as semanas, com calor ou frio, sol ou chuva, para chegar à casa da moça, era o carteiro…
Vamos tirar as nossas conclusões: aprender do exemplo dos santos a amar a Deus com todas as nossas forças, a abraçar a nossa cruz de cada dia, a não colocar condições em nosso amor ao próximo: assim será verdadeiro e sincero o nosso amor.