Observando os textos das Sagradas Escrituras, encontramos inúmeros ensinamentos colhidos do chão da vida que facilitam a compreensão de uma realidade a nos remeter para além do que nossos olhos são capazes de enxergar. Pode ser uma árvore, uma flor, um rio, um pássaro, uma moeda, a chuva, o vento, uma semente… Jesus e os profetas beberam dessa inesgotável fonte e nos ensinaram coisas maravilhosas: falaram do Reino de Deus.
No ensinamento de hoje, Jesus ensina fazendo comparações com a semente. Primeiro, mostra a semente que é espalhada pelo agricultor. Este vê todo o processo que ocorre com ela depois de semeada: germina, cresce, aparecem folhas, espigas, grãos, e chega a hora da colheita. Além do suor derramado, o agricultor precisa acreditar na força da semente, que é capaz de brotar mesmo diante da dureza das pedras ou do ferimento dos espinhos. Apesar do cenário em que vivemos não ser bom, é tempo de semear a boa semente. Vejam que uma semente é capaz de abrir o asfalto de uma estrada e arrebentar o cimento de uma calçada. Pequenas iniciativas reproduzidas por agricultores corajosos e confiantes são capazes de fazer com que a solitária semente produza espigas com muitos grãos. O importante é semear sempre, a semente é boa.
Na segunda parábola, Jesus volta a falar do Reino de Deus, fazendo outra comparação a partir da semente. Diz Jesus que o grão de mostarda é o menor de todas as sementes da terra, mas, depois que germina, cresce e se torna a maior de todas as hortaliças, com ramos enormes que protegem os pássaros do céu. Que bela comparação, pequenos arbustos protegendo e dando segurança para aves e outros pequenos animais. É sombra que protege do calor, é lugar seguro para fazer seus ninhos. Penso numa Igreja como pequenas comunidades onde as pessoas, sobretudo os pequeninos, os mais frágeis, se sintam seguros e protegidos. Uma Igreja não mais como árvore frondosa que brilha no alto da montanha dificultando o acesso e cansando quem nela quer chegar, mas uma Igreja como pequenos arbustos espalhados por todo caminho acolhendo a todos.
Também o profeta Ezequiel faz belas comparações para animar o povo e sustentar a esperança de que Deus vai transformar a tristeza em alegria, a escravidão em liberdade. Diz o profeta que Deus vai tirar um galho do alto de um cedro e dele arrancará um broto que será plantado sobre um alto monte. Esta árvore dará fruto e, à sua sombra, as aves farão ninhos. Começa pequeno, um simples broto, mas vai ganhando força, crescendo, até ser bela árvore que produz frutos para alimentar e ramagem para as aves se aninharem. Deus não abandona seu povo.
No Salmo 92, mais uma bela imagem do campo em comparação com a ação do homem. Aquele que é justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano. A grandeza da palmeira e a florada do cedro é o que há de melhor na natureza para ser referência na comparação com uma pessoa justa. Pessoas assim não têm preguiça, pois “mesmo na velhice darão frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes”.
O apóstolo Paulo, fazendo comparações, lembra nossa habitação terrena, como quem vive construindo tendas no deserto até chegar à tenda eterna, a Casa do Senhor. Como peregrinos que caminham esperançosos em chegar à habitação definitiva, somos desafiados a preencher a vida, esta tenda provisória, com toda multiplicidade de boas obras.
As pequenas sementes de trigo que caem na terra ressurgem e se transformam num belo trigal. O fruto maduro não voltará para alimentar o trigal, mas para ser pão que nutre a fome dos homens. A pequena videira podada cresce e produz muita uva. Seu fruto saboroso não voltará para alimentar a árvore que a produziu, mas para ser vinho que alegra o coração dos homens. Do trigo moído e da uva pisada, podemos nos alimentar do corpo e do sangue do Senhor, que, como a melhor semente, também foi triturado e pisado, tornando-se alimento para quem Nele crê.