‘Tomado de compaixão’ (Mc 6,30-34)

Gosto de ouvir os padres da porção da Arquidiocese a mim confiada como Bispo Auxiliar. A cada encontro, eles me narram os seus feitos, que são tantos. Alguns mais, outros segundo as suas condições. Diante disso, recordo-me de uma frase de Antoine de Saint-Exupéry: “É preciso exigir, de cada um, o que cada um pode dar, a autoridade repousa sobre a razão”.

Muitas vezes, diante da correria e do trabalho realizado com afinco, preocupo-me com a saúde física, psíquica e espiritual desses dedicados pastores e aconselho um descanso, uma pausa, um retiro para que, assim, reanimadas as forças, possam continuar o pastoreio e a missão.

Diante dessa preocupação, muitas vezes tive como resposta: não consegui tirar uma folga, pois morreu alguém e fui fazer as exéquias; um paroquiano está internado e fui visitá-lo para rezar com ele e proporcionar a Unção dos Enfermos; os barracos da favela pegaram fogo e tivemos que socorrer… São muitos os gritos da multidão clamando um pastoreio. Nesse momento, o que dizer? É necessário descansar, contemplar e ter compaixão!

Essas e outras situações me ajudam a refletir a presença constante e amorosa de Deus em nossas vidas, como um pastor cuidadoso, que conhece cada uma de suas ovelhas pelo nome e se preocupa profundamente com o bem-estar delas.

No capítulo 23 de seu livro, o profeta Jeremias nos fala de um Deus cheio de compaixão que promete reunir seu rebanho disperso e dar-lhe pastores segundo o seu coração. Lembra-nos ainda de que Deus não se esquece de suas ovelhas perdidas e sofredoras. Ele está sempre pronto a estender sua mão salvadora para cuidar das suas feridas, dando firmeza aos pés claudicantes, resgatando as ovelhas perdidas e guiando-as de volta ao redil. Podemos reforçar essa imagem de pastoreio também, como lembrado pelo profeta Ezequiel, e dizer que o Senhor conduzirá bem o seu povo, “Ele mesmo apascentará suas ovelhas e as fará repousar. Ele procurará a ovelha perdida, reconduzirá a desgarrada, dará o enfaixe para a ovelha quebrada e fortalecerá a doente e vigiará aquela que estiver bem” (Ez 34,15-16).

O Salmo 22 fortalece essa mensagem de confiança e esperança na misericórdia divina. “Sois o meu refúgio, Senhor; dai-me a alegria da vossa salvação.” Essas palavras são um lembrete de que, em Deus, encontramos um refúgio seguro contra as tempestades da vida.

No Evangelho segundo São Marcos (6,30-34), Jesus convida os apóstolos a um momento de descanso depois de ouvir o relato da intensa atividade evangelizadora que estavam desempenhando. Contudo, as multidões os seguiam, famintas e sedentas por ouvir as Palavras de vida que brotavam dos lábios do Mestre Jesus que, cheio de compaixão, acolhia aquelas pessoas, vendo nelas não apenas uma multidão faminta, mas almas sedentas de esperança e de amor.

Jesus mostra sua compaixão pelas multidões que o seguem, pois elas são “como ovelhas sem pastor”. Ele ensIna, cura e alimenta o povo, mostrando que o Reino de Deus está próximo. Jesus é o Bom Pastor que conhece suas ovelhas e se sacrifica por elas.

Exposto isso, valorizo o empenho dos nossos padres que foram chamados a serem discípulos missionários no mundo de hoje com os seus desafios que, muitas vezes, nem os deixa descansar. Lembro a cada um deles e a todos que, também como ovelhas do rebanho de Cristo, devemos ficar atentos para ouvir sua voz e seguir seus passos, pois a imagem das multidões que seguiam Jesus nos interpela a urgência da missão evangelizadora da Igreja, cuja vocação é acolher a todos com compaixão, indicando o caminho da verdade, sendo instrumentos de paz e esperança no mundo.

Que possamos ser verdadeiros pastores uns dos outros, cuidando com zelo e guiando aqueles que Deus colocou em nosso caminho.

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