Tu te preocupas demais! (Lc 10,38-42)

A questão é mais atual do que parece. Os homens de nosso tempo conquistaram a capacidade de planejar tudo, de calcular e até de programar. Porém, mais do que planejadores, calculistas e programadores, acabaram se tornando, eles mesmos, programas, cálculos e programas. 

Fico admirado quando percebo as pressões que as pessoas sofrem em nosso tempo, desde crianças. Os pais querem preparar os filhos para a concorrência do mercado de quando tiverem 20 anos. Por isso, começam a prepará-los para isso “no berço”. Algumas pessoas colocam os filhos ainda pequenos para estudar línguas, para estimulá-los nas artes e nas ciências. A intenção é maravilhosa e merece todo o respeito do mundo. Mas os riscos são maiores que os benefícios. Vivemos como se estivéssemos sempre atrasados, sempre em segundo lugar, correndo obstinadamente para alcançar o primeiro, que é o único que serve. 

Nunca estaremos suficientemente preparados para um mercado tão feroz! Isso pode resultar em ansiedade, hiperatividade excessiva e, o pior, frustração. Afinal, as pessoas não podem prever o que será a vida, especialmente aquilo que não dependerá delas. Os tempos mudam! As pessoas se desgastam, se cansam, desistem. Mas o risco ainda maior é o de deixar que seja uma estrutura externa e incontrolável a dar o rumo das decisões mais importantes da vida de uma pessoa, como de sua profissão, por exemplo. 

Ser protagonista da própria vida exige muita paciência, inclusive das pessoas que nos amam e, por isso, precisam aprender a esperar para ver as decisões que tomaremos, quando chegar a hora de tomá-las, e não antes. É a vontade de ajudar que, às vezes, nos leva a atrapalhar. A nossa vida também é um mistério. A vida do outro é um mistério, a do filho não menos. Além disso, cada um só pode dar respostas verdadeiramente livres a respeito da própria vida. É a única liberdade que somos capazes de governar; a própria, e de ninguém mais. Infelizmente, essa costuma ser a liberdade que menos governamos. 

Nesse contexto, recordamos a pergunta queixosa de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço?”. A opção de Maria parecia ser uma perda de tempo, um desperdício, um descaso. Mas Jesus responde a ela e a nós: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas”. E tal resposta não desconcertaria tanto se Ele tivesse parado por aí. O problema é que Ele afirma que toda essa preocupação é que significava perda de tempo, desperdício, descaso. Todas as preocupações e agitações se referiam às coisas menos importantes. A irmã dela tinha deixado todas as preocupações corriqueiras para se ocupar da que mais interessava. Disse Ele a Marta: “Uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. Deixe que ela se ocupe de mim, de minha palavra, de meu amor! 

A coisa mais frustrante para nós não é empreender muitas batalhas difíceis. O que nos decepciona mesmo é descobrir que lutamos pelas coisas erradas ou, pelo menos, pelas causas menores e menos compensadoras, nos desgastamos com coisas que, mesmo importantes, não são essenciais. O povo sabiamente ensina: “O dinheiro compra a cama, mas não pode comprar o sono”. Nossa vida precisava ser mais humana! E o grande Mestre de humanidade e de sentido da vida é Jesus: Caminho, Verdade e Vida. 

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