Vocação sacerdotal e sinodalidade

Toda vocação é uma história de Amor. Somos filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, feitos para amar.

O padre é ministro e servidor do Amor e deve manifestá-lo cotidianamente. Pelo Batismo, ele é preparado e ordenado para assumir sua natureza de discípulo-missionário e, animado pelo Espírito Santo, anunciar a mensagem do Pai que nos convoca a instaurar o seu Reino de amor, justiça e paz.

Este ano, a Igreja no Brasil nos convida a promover uma cultura vocacional mais intensa, a orar por todas as vocações: ao sacerdócio, à vida consagrada ou à vida matrimonial. E a mensagem do Papa Francisco para o 60º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, cujo tema é “Vocação: graça e missão”, enfatiza que “o chamado do Senhor é graça, dom gratuito e, ao mesmo tempo, é empenho de partir, sair para levar o Evangelho”. Ou seja, é o estreito vínculo entre a vida da graça e o apostolado do mundo. E ao falarmos de vocação, pode parecer que o chamado de Deus é algo que surge do nada ou um ato predestinado. Pelo contrário, como diz o Papa Francisco na mensagem, “a vocação é uma combinação entre a escolha divina e liberdade humana”. Todo chamado vocacional está ligado a uma história de vida, que se dá em um local, tempo e em determinadas condições.

O texto da Carta aos Hebreus (5,1- 10) revela justamente que o chamado ao sacerdócio acontece no meio das pessoas, na comunidade, diante da realidade de um povo que ora, partilha, espera e trabalha. E aquele que é chamado, ou seja, que se sente apto a responder à voz de Deus diante das necessidades e orações da comunidade, é instituído para trabalhar pelo e com o povo, para pôr-se a caminho e partilhar com as pessoas a vida e a história, intercedendo e rezando em favor delas naquilo que diz respeito à vontade de Deus. Por isso, o sacerdote deve ser aquele que jamais esquece as raízes de onde Deus o chamou. Ele deve ter como referência o único e verdadeiro Sumo Sacerdote da Nova Aliança: o Cristo!

Retomando as palavras do Papa Francisco: “O sacerdote deve ser perito em humanidade”. Isso implica assumir nossa humanidade, admitir que às vezes somos falhos e que não estamos acima de ninguém, ao mesmo tempo que exige esforço e paciência para compreender as pessoas, solidarizar-se com elas. Por essa razão, o ministério sacerdotal é instituído para promover e não remover! Não é para torturar ou perseguir, mas para pacificar! Não é para colocar mais fardos nos ombros das pessoas, mas para retirá-los.

O sacerdote precisa ser o homem da alteridade e da comunhão. Diante da exigência de uma Igreja sinodal, que almeja caminhar juntos, ele precisa ser construtor de pontes, forjar sua identidade a partir da vida de Cristo, que é o pastor por excelência que cuida de suas ovelhas e lhes prepara o caminho. O ministério que ele recebe não o coloca acima de ninguém, nem lhe dá poderes infinitos e ilimitados, tampouco lhe permite fazer tudo o que quer. Pelo contrário, o sacerdócio existe para promover a comunhão e o diálogo, estimular o fortalecimento dos vínculos da comunidade e fazer crescer as relações de proximidade com os outros e com Cristo, respeitando as diferenças. Há comunhão quando somos capazes de nos colocar no lugar do outro, de sentir as dores e as angústias dos que mais sofrem, sobretudo dos mais pobres. Isso é viver em sinodalidade.

Portanto, cabe ao ministro ordenado deixar-se contagiar por este Deus Amor que conduz nossas ações e nos convoca à vivência fraterna e justa. Jesus sempre insiste no amor. E o gesto de amar, de forma concreta, é uma atitude imprescindível para o exercício do ministério pastoral. Que sejamos capazes de amar a Deus e aos irmãos a partir desta fonte transbordante de amor que se chama Jesus, reconhecendo que a vocação é dom gratuito do Pai e apelo para irradiar no mundo a vida nova do Reino.

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