Estudo comprova que ‘só sei que nada sei’ 

As redes sociais são um território de muitas emoções. No mesmo lugar em que milhões rezam o Santo Rosário, outro milhão está discutindo temas que desconhecem, comportando-se como especialistas. 

Creio que praticamente todos nós já ficamos incomodados aqui e ali com certos comportamentos. 

Um desses é quando uma pessoa de conhecimento renomado em uma determinada área é confrontada com ofensas por um jovem de 20 anos que acha que sabe tudo. 

O tema nem importa muito. Pode ser ligado à pandemia, política ou filosofia, da teologia à medicina, da física à biologia. 

Tem sempre um espertinho que, com o conhecimento de uma pesquisa rasa na internet, se acha apto a dar palestra para outro que estudou décadas sobre aquele tema. 

Se você, como eu, acha que se trata de um arrogante que ainda não entendeu que não sabe nada, fique tranquilo. O que poderia ser um julgamento temerário tem uma explicação científica: o “efeito Dunning Kruger”. 

David Dunning e Justin Kruger são psicólogos. Em 1999, publicaram um artigo sobre estudos conduzidos na Universidade Cornell, nos Estados Unidos. O título é inspirador “Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments” ou, em tradução direta algo como “Não qualificado e inconsciente disso: como as dificuldades em reconhecer a própria incompetência levam a autoavaliações infladas”. 

Só o título já me anima a concordar com ele, mas vamos saber um pouco mais. 

O ponto de partida, conta o artigo, é o famoso caso de McArthur Wheeler, de Pittsburgh. Em 1995, McArthur assaltou dois bancos à luz do dia sem qualquer disfarce, tendo sido preso poucas horas depois após análise das câmeras de segurança. 

Quando confrontado com as cenas capturadas, mostrou-se inconformado por não ter ficado invisível como planejado, apesar de ter passado “suco de limão” em seu rosto. 

No artigo, os psicólogos apresentam o argumento: “Defendemos que quando as pessoas são incompetentes nas estratégias que adotam para conseguir o sucesso […], elas sofrem com dois fardos: não apenas chegam a conclusões erradas […], mas sua incompetência lhes rouba a habilidade de perceber isso”. 

Os estudos comprovaram a tese de Dunning e Kruger: quanto menos alguém sabe sobre um assunto, maior a chance de achar que sabe tudo sobre ele. Bingo! 

Apesar de não fazer parte do artigo original, o estudo é comumente demonstrado por um famoso gráfico, uma curva que compara o “conhecimento do assunto” versus “autoconfiança no tema”. 

Ela destaca quatro “tempos” na evolução do conhecimento: 

O pico da estupidez: É o primeiro ponto em que, com um mínimo de conhecimento, o indivíduo se acha o mais “sabido” de todos. 

O vale do desespero/ humildade: Um pouco mais de conhecimento leva o indivíduo a ver que não sabe nada, diminuindo sua autoconfiança. 

A rampa da iluminação: Com mais profundidade no tema, o indivíduo começa a ter algum domínio e retoma alguma confiança. 

O platô da sustentabilidade: Quando o indivíduo sabe bastante do assunto, mas percebe que sempre há muito mais a saber. 

Mas por que resolvi trazer esse tema? 

Preciso confessar! Primeiro, porque o estudo me trouxe alguma paz de espírito, ao comprovar o que todos nós já suspeitávamos. Mas também para uma meditação. 

Em outro artigo escrevi: “O demônio fez bem seu trabalho, e na era da mentira nos inflou individualmente com sua arrogância. Nos aprisionou em uma armadilha infinita de ‘briga por posições’, que nos mantém em discussões sem fim, sobre temas do qual ele é o pai”. 

O estudo de Dunning Kruger parece corroborar essa ideia. O demônio nos mantém nessas discussões sem fim. Ninguém ouve ninguém, afinal todos sabem tudo sobre quase tudo. Não há como conseguir consensos, não há como iniciar conversões. 

A estratégia é, então, nos bombardear com informações e temas para discutirmos nas redes, com muito pouco tempo para conhecer as coisas. Mantemo-nos no conhecimento raso e com nossa autoestima elevada. 

Do alto do “pico da estupidez”, gritamos para os quatro ventos sabedorias que não temos, conclusões que não tiramos, e fazemos acusações baseadas em conhecimentos rasos que aprendemos de outros estúpidos. 

Essa armadilha, contudo, não deveria aprisionar os cristãos. Afinal, desde sempre, diante do Criador de todas as coisas, sabemos que não somos nada, não sabemos nada e não merecemos nada. 

Precisamos nos revestir da humildade de São Miguel Arcanjo, que abateu o inimigo de Deus, e prestar atenção para não agirmos como os ímpios e ficarmos cegos para o que Deus nos que mostrar. 

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