Eucaristia: todos somos convidados

Encerrou-se o 18º Congresso Eucarístico Nacional, na “Terra dos altos coqueiros”, da arquidiocese de Olinda e Recife. Depois de uma prolongada e primorosa preparação, o evento envolveu intensamente aquela Igreja local e as dioceses do Brasil, especialmente do Nordeste brasileiro. 

Além das grandes celebrações de abertura e encerramento, que também tiveram a participação do Núncio Apostólico e de mais de 200 bispos de todas as regiões do País, foram bonitas as celebrações feitas nas paróquias daquela Arquidiocese, inclusive com primeiras Comunhões e o sacramento da Confirmação. 

Parte importante do Congresso foi dedicada ao simpósio teológico, em vários atos, ao longo de três dias. Como não podia deixar de ser, os temas abordaram a Eucaristia e as diversas implicações da fé no “sublime Sacramento” e sua celebração na comunidade da igreja. Realmente, a Liturgia, sobretudo a celebração da Eucaristia, constitui o ponto mais alto da vida e da ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual brota todo o seu dinamismo e eficácia. A Eucaristia é o Sacramento de Jesus Cristo com sua Igreja. Como ensinou o Papa São João Paulo II na Exortação Apostólica Ecclesia de Eucharistia, do sínodo sobre a Eucaristia: “a Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja”. A celebração eucarística é o momento mais expressivo da vida e da ação da Igreja. 

Entre os aspectos abordados no simpósio teológico, teve destaque o conceito de “participação”, o que veio bem a propósito da situação e necessidade atuais: a pouca participação na celebração da Eucaristia na santa missa. Isso não acontece apenas em decorrência da pandemia de COVID-19, quando as pessoas foram convidadas a evitar aglomerações, inclusive nas igrejas. Nessa ocasião, com razão, era importante zelar pela saúde e se adotou a transmissão da missa pelo rádio, TV e diversas mídias, para oferecer a participação na missa, ainda que imperfeita e insuficiente. Porém, passado o risco grave da pandemia e com a vacinação disponível a todos, muitos ainda preferem acompanhar a celebração da Eucaristia pelas mídias, mesmo estando em boas condições para frequentar as celebrações nas igrejas. 

Mesmo antes da pandemia, a participação regular dos católicos na missa dominical já era muito baixa, não passando de 6% na cidade de São Paulo. E não parece ser muito diferente em outras partes do Brasil. Isso revela, certamente, pouca consciência em relação ao valor e à importância da participação na missa dominical. Caberia aqui a exclamação, parafraseando a palavra de Jesus à mulher samaritana à beira do poço de Jacó: “Se tu conhecesses o dom de Deus!” (cf. Jo 4,10). Ah, se conhecêssemos o significado e o valor da santa missa! Ah, se soubesses quem é que te convida ao encontro dominical, para estar ao redor do altar e que grande presente tens a ganhar, tu não perderias mais uma missa aos domingos! 

No final de junho, o Papa Francisco escreveu uma carta apostólica curta e bela sobre a beleza, a profundidade e a riqueza da celebração litúrgica, especialmente da Eucaristia. A carta tem o nome sugestivo latino de “Desiderio desideravi” (Desejei ardentemente), palavras de Jesus no início da última ceia, ditas aos apóstolos: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco” (Lc 22,15). Esse convite de Jesus se refere a cada celebração da missa. Hoje somos nós os convidados a participar da ceia do Senhor, a nos unirmos a Ele, como os apóstolos na Última Ceia. Que pena! Muitas vezes nem sabemos que somos esses “felizes convidados para a ceia do Senhor”. 

O Papa, na carta apostólica citada acima, recordou os diversos aspectos da participação da comunidade de fé, reunida para a celebração da missa. Não se trata de uma ação apenas do sacerdote, que tem sua forma qualificada de participar, presidindo a celebração em nome de Cristo sacerdote e da comunidade celebrante. A primeira forma de participar é sair de casa, ir à igreja, unir-se de corpo, mente e intenção à comunidade que celebra. Participar é, antes de tudo, não estar ausente da celebração, mas tomar parte dela. 

O Concílio Vaticano II fez a reforma litúrgica, justamente, para que os fiéis pudessem participar ativa, consciente, plena e frutuosamente da celebração litúrgica. Cada um desses quatro aspectos tem sua importância. A participação ativa se expressa pela presença e a adesão pessoal a cada momento celebrado, rezando, cantando, ouvindo, respondendo, fazendo silêncio, aclamando… Participar de maneira consciente requer a atenção e o conhecimento dos gestos, ritos e símbolos celebrativos, para unir-se a eles com fé, louvor, adoração, admiração. A participação plena requer que tomemos parte na celebração inteira, e não apenas numa parte dela. A participação será frutuosa na medida de nossas disposições pessoais e interiores, sobretudo da fé na ação de Deus e na ação da Igreja no mistério celebrado. 

Temos muita necessidade de voltar às celebrações litúrgicas, que não são devoções privadas, mas ações de Jesus Cristo com a sua Igreja, da qual somos parte. Dizia o Santo Cura d’Ars: “Ah, se soubéssemos o que é a Eucaristia, não deixaríamos mais de participar da Santa Missa!”. 

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Marcos Aguiar
Marcos Aguiar
1 ano atrás

O congresso Eucarístico foi uma benção de Deus para todos nós Pernambucanos, de maneira especial para os paroquianos da paróquia de São Francisco de Assis em Paulista, onde tivemos a graça de receber o querido Dom Odilo Pedro Scherer, durante três dias em uma programação bem intensa com celebrações e a Primeira Comunhão de um grupo de crianças, só temos a agradecer por todo o carinho de sua estadia em nossa paróquia muito obrigado.

Janaina Oliveira
Janaina Oliveira
1 ano atrás

Sábias palavras Dom Odilo, se nós leigos compreendesse-mos um pouquinho mais da importância da Eucarístia as Igrejas estariam lotadas. O prisioneiro do amor está lá no Sacrário a nossa espera.
Agradeço por sua presença na Nossa Paróquia de São Francisco de Assis e por presidir o Sacramento da Eucarístia de minha filha. O Senhor faz parte da nossa história. Que Deus o Abençoe