Família e educação

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é a Educação. Apropriadíssimo, considerando-se os problemas crônicos da Educação no Brasil, agravados pela pandemia, e a importância que a Igreja sempre deu a ela – não podemos nos esquecer que eram católicas as primeiras escolas de nosso País.

Qualquer reflexão sistemática sobre Educação deveria se iniciar pelo papel da família, a primeira e mais decisiva comunidade educativa. Contudo, ela é o espaço educativo mais depreciado nos tempos atuais, responsabilizada por todas as mazelas que acontecem na vida da pessoa.

A família, muitas vezes de forma inconsciente, molda a personalidade de cada um de nós. Para cada ação educativa consciente, existe um número incontável de gestos com os quais nossos pais, por seu exemplo e seu modo de ser, nos educam e nos moldam. Somos fruto desse processo, mesmo quando resolvemos negá-lo e nos distanciarmos. Da mais ferrenha afirmação à mais ferrenha negação das referências familiares, elas permanecem por toda a existência.

Nesse sentido, não deixa de ser justo imputar às famílias uma grande responsabilidade pelos problemas, inadequações e frustrações que o adulto enfrenta em sua vida. Contudo, podemos nos perguntar: Haverá educador melhor? Poderá o Estado ocupar o lugar da família com mais sucesso? As histórias de vida de pessoas crescidas em instituições públicas, sem contato com a família, são sempre problemáticas e não indicam que o Estado possa fazer melhor do que as famílias.

Quanto mais complexa é a sociedade, quanto maior o número de possibilidades e desafios que oferece às novas gerações, maior a dificuldade enfrentada pelos pais para educar seus filhos. Com isso, mais fragilizada se apresentará a instituição familiar. A solução, porém, não passa por abandonar a família ou estigmatizá-la, e sim por fortalecê-la. Uma sociedade mais desafiadora necessita de famílias mais fortalecidas, para o bem não só dos jovens, mas, também, dos adultos e da própria sociedade.

Nesses últimos tempos, o Papa Francisco tornou famoso um ditado africano, citado por ele na mensagem para o lançamento do Pacto Educativo Global: “Para educar uma criança, é necessária uma aldeia inteira”. A família precisa da colaboração de todas as instâncias da sociedade para cumprir sua missão educativa, que – de certa forma – nunca se encerra, pois nossos pais nos ensinam mesmo depois de suas mortes, com a memória indelével que se torna ainda mais marcante depois que se foram.

Integrar a família à escola e facilitar que os trabalhadores possam ter tempo para se dedicar à educação de seus filhos são dois desafios prementes para a sociedade brasileira. O aprendizado sempre é melhor quando pais e professores caminham em sintonia, os jovens sempre são mais bem orientados quando os pais têm  tempo e recursos para acompanhá-los em sua iniciação à vida.

Contudo, desafios tanto práticos quanto ideológicos se opõem a uma boa educação dada pela família em nossos tempos. Para grande parte da população brasileira, os filhos já estão num estágio da formação escolar que não foi alcançado por seus pais. A jornada de trabalho nas grandes cidades é estafante, aumentada pelo tempo de deslocamento, não deixando espaço para interações entre pais e filhos. Os novos contextos culturais impõem questões éticas e situações que os pais não enfrentaram no passado e diante das quais não sabem bem como agir. Nas mídias sociais e nos ambientes frequentados pelos jovens, os valores familiares estão sendo constantemente questionados. As comunidades católicas têm um papel inestimável nessa conjuntura. São um espaço privilegiado para que os pais reflitam juntos e se preparem, na teoria e na prática, para o desafio da educação de seus filhos.

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