‘Família é tudo!’

A expressão faz parte da mensagem de WhatsApp de um jovem que manifesta a importância de valorizar a família nos tempos de hoje. É animador que essa exclamação proceda de um jovem, e não de alguém que poderia estar vinculado a um saudosismo, quem sabe até anacrônico, considerado por alguns que não aprenderam ou se esqueceram de que a “família é tudo”!

Muitos foram os temas tratados nesta coluna ao longo destes anos nos quais a família ocupou um lugar de destaque em uma variedade de lugares e situações que envolvem o comportamento do ser humano. Neste mês especial de maio, mês mariano, iniciado por São José e dedicado à família, não se poderia deixar de mencionar, repetida e insistentemente, a imprescindível necessidade de se aprofundar cada vez mais na expressão “família é tudo”.

Vamos iniciar pelo verbo “ser”: família é tudo. A implicação deste verbo nesta breve afirmação nos transporta ao monte Sinai, quando, à pergunta de Moisés sobre o nome do Senhor, Ele afirma: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). O verbo ser indica estado permanente, diferentemente do verbo estar, que se refere a estado circunstancial transitório. Portanto, Deus não é transitório na sua essência, mas é permanente, e mais, atemporal: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22,13). “Em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jo 8,58).  

A ideia de família que antecede a própria criação da humanidade foi criada para que ela – família – se comporte no âmbito das condições estabelecidas por Deus: “Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24). O que Dele procede é fiel e permanente, ainda que respeitada a liberdade humana, sujeita a seus equívocos e fraquezas decorrentes do pecado. Portanto, “família é tudo”, está na sua condição de ser vinculada à vontade de Deus, que, sendo perfeita e referência da verdade, não pode ser adulterada por circunstâncias históricas, em que a interferência da liberdade humana queira inverter o seu significado, assim como sugerir novos comportamentos de “verdades”, que tirem o homem do caminho da Verdade, cujo fim nos revela a Felicidade. 

Chegamos ao “tudo”. O pronome indefinido “tudo” corresponde à totalidade, aquilo que abrange a universalidade da criação e da própria existência. “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. Assim foram concluídos o céu e a terra, com todos os seus elementos” (Gn 1,31; 2,1). Fica claro que o tudo criado é mais do que o todo que as criaturas poderiam entender, pois pertence somente à sabedoria de Deus. Frequentemente, o homem refere-se a um tudo parcial. “Tudo que se planta nesta terra cresce”, ou “tudo aqui é feito de madeira”… No entanto, o tudo de Deus está ligado à totalidade da criação, onde nada escapa, pois se confunde com a totalidade ilimitada de Deus. 

O “tudo” em “família é tudo” pertence a este universo da Verdade divina, que compreende a criação do homem como um ser que foi criado para corresponder livremente à vontade divina, por ser esta a única fonte de felicidade na sua plenitude: “O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus” (São João Paulo II, Evangelium vitae, 2). Entretanto, adverte-nos São Paulo VI no primeiro capítulo da Humanae vitae: “O gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são os colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias, se bem que, algumas vezes, acompanhadas de não poucas dificuldades e angústias”. Dificuldades e angústias existentes em função do pecado original.

Esforçar-se em comportar-se de acordo com o slogan do jovem – “família é tudo” –, torna-se um caminho de santidade, apesar de todas as dificuldades de ambientes, de circunstâncias agressivas, de épocas e gerações. Oxalá sejam estas breves palavras uma referência para conhecer que o nosso comportamento cotidiano seja perseverante na fé, com o olhar na esperança das promessas de Cristo, e que nos permita viver o amor, que permanecerá para a eternidade, modelo vivido pela intercessão de Nossa Mãe, a Virgem Maria, e Nosso Pai, São José. Não nos esqueçamos jamais das palavras deste santo dos nossos dias, das causas cotidianas: “De que tu e eu nos portemos como Deus quer – não o esqueças – dependem muitas coisas grandes” (São Josemaría Escrivá, “Caminho”, 755).

Aqui me despeço nesta coluna, na qual tive a alegria pela confiança por mais de cinco anos, dando graças se pude levar alguém mais perto de Deus, pela intercessão de Maria e José.  


Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com

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