O contágio pela esperança

Ainda não é possível sabermos, com segurança, de onde vem essa peste. Sim, já sabemos e podemos chamá-la de peste, como uma dentre outras simbologias.

E já sabemos que essa peste pode ter sido engendrada em laboratório, como arma biológica. Aqui, porém, atentem bem para a frase: pode ter sido. Quem afirmasse isso hoje, de modo categórico, já teria sido acometido por outro vírus, o vírus da má-fé. Inúmeros portadores desse vírus se farão presentes nestes tempos difíceis e obscuros. Uns, para responder à arma química produzida por uma facção, com outra arma química, gerada pela facção oposta. Felizmente, dessa guerra já escapamos. Os laboratórios militares daqui estão produzindo medicamentos que podem cooperar na cura da peste. Tomara que, passada a fase da peste, esses laboratórios prossigam na boa tarefa, na tarefa do bem, de produzir fármacos comprovadamente eficazes para o combate de doenças bem mais banais e que continuam a matar tantos e tantos pobres em nosso País.

A peste ainda não tem uma vacina. E ela nos faz lembrar a vitória do senhor Cruz, também conhecido como Dr. Osvaldo, contra uma peste. Criada a vacina contra a varíola, há mais de um século, ao tentar aplicá-la, o senhor Cruz foi alvo da revolta contra a sua descoberta. A vacina venceu e a varíola foi erradicada.

No entanto, como não temos, ainda, a vacina, a revolta de hoje é contra o isolamento, única terapia possível enquanto a vacina não chega. É uma revolta, contudo, na qual os revoltosos não estão preocupados com a doença nem com o doente. Aliás, se pensarem bem, nem sabem com o que estão preocupados.

Que falta faz o senhor Chagas, conhecido como Dr. Carlos, que atuou em três frentes de combate à malária, à doença que leva o seu nome e à gripe espanhola, antecessora do novo coronavírus! O senhor Chagas agia com modéstia e discrição. E, mesmo tendo contraído a gripe que mataria 11 mil pessoas só na cidade do Rio de Janeiro, não deixou o front de batalha em nenhum momento e teve sempre o apoio integral do presidente Venceslau Brás.

Ninguém sabe, ninguém explica o que está acontecendo. Toda a nossa experiência de vida, da qual tanto nos orgulhamos, cede o passo diante de algo que supera os mais sombrios prognósticos. E vamos deixar por isso mesmo?

Na homilia da Vigília Pascal, o Papa Francisco respondeu: “Vamos nos deixar contagiar pela esperança. E sejamos portadores orgulhosos desse vírus do bem”.

Contagiados, passaremos a ser solidários com os que sofrem. Solidariedade que pode se expressar, por vezes, em um simples telefonema ou em uma tuitada. Mas que pode, também, ganhar a escala de ajuda concreta com alimentos, produtos de higiene…

Os povos que travam, na Terra Santa, uma batalha infindável, sentaram-se à mesa para buscar atuação conjunta no combate à peste. Mantido o contágio da esperança, serão capazes de criar as condições para a paz que todos almejam quanto ao lugar sagrado para o qual confluem as três religiões que cultuam o Deus único. Esperar contra toda a esperança.

Boa parte do povo não enfrenta o dilema isolamento versus trabalho, porque só ganha o pão de cada dia se e quando trabalhar naquele dia. E esse pobre, que será atingido pela peste no ir e vir a que está obrigado, não pensou muito sobre o assunto.

Espalhar o vírus da esperança exige que não se irradiem notícias falsas sobre o que está acontecendo. Nada de alarmismo, ainda que a situação se mostre grave. Todos temos medo. Venceremos o medo como o senhor Cruz e o doutor Chagas o fizeram: com as armas da esperança, da ciência e da confiança.

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