Após a minha ordenação episcopal, assumi minha missão de Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Vigário Episcopal para a Região Brasilândia. Minha proposta de agenda inicial foi visitar cada padre e conhecer a realidade dos seus trabalhos, suas alegrias e dores. Em uma das visitas, algo me chamou a atenção: um padre já muito idoso, com a saúde bem frágil, trabalhando numa paróquia bem da periferia com muitos desafios. Ali estava ele, havia mais de uma década, firme, segundo ele. Fiquei comovido com a sua disposição naquela dura realidade. Depois da boa conversa, ao final da visita, ele apertou a minha mão e disse: “Fé e coragem!”. Dias depois, ele veio a falecer, porém aquela última frase da visita continuava ressoando nos meus ouvidos. Soube no seu velório que esse era o seu bordão, e assim cumprimentava a todos: fé e coragem!
Refletindo o Evangelho segundo São Marcos no capítulo 4,35-41, essa frase recorrente vem como uma chave perfeita de interpretação: a coragem e a confiança que devemos ter em Deus. Mesmo nos momentos de dificuldade e tempestade, vemos Jesus acalmando a tempestade no mar, demonstrando seu poder sobre as forças da natureza e nos ensinando a importância da fé inabalável.
Não estamos abandonados à nossa própria sorte. Deus caminha ao nosso lado, cuidando de nós com amor de Pai e oferecendo-nos, a cada passo, a vida e a salvação.
Assim como os discípulos que estavam com medo durante a tempestade, muitas vezes também nós enfrentamos tempestades em nosso dia a dia. Muitas são as vicissitudes, desafios, incertezas, dores, perseguições e sofrimentos que, se não tomarmos cuidado, nos levam a fraquejar na fé e a duvidar da presença amorosa e do cuidado de Deus por nós. Nesses momentos, quando nos lembramos de rezar, nossa oração quase sempre é um questionamento: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” É, então, que Jesus nos mostra o seu poder e ordena ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!”.
Jesus nos mostra que mesmo nas tempestades mais violentas, Ele está conosco, pronto para nos acalmar e nos guiar para a segurança. Diante das incertezas e tribulações, Ele também nos questiona: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Essa interpelação vem para que possamos confiar plenamente em Deus, sabendo que Ele está no controle de todas as coisas e que nunca nos abandona. Que possamos aprender a enfrentar nossos medos com fé e coragem, a exemplo daquele velho padre que citei acima, sabendo que Deus está conosco em cada passo da nossa vida.
Nessa certeza, sigamos numa vida de fé, coragem e esperança, mesmo diante das tempestades e turbulências, agarrando-nos à promessa de que, ao final, a paz e a calmaria prevalecerão, e que Deus nos conduzirá para a segurança de seu amor eterno. Portanto, com a força do Espírito Santo, fé e coragem, nosso auxílio, segurança e esperança estão no Senhor Deus, criador do céu e da terra, do mar e de tudo que neles existe (cf. Sl 146,6).