Feliz Natal

Nesta época do ano em que a cidade toda vai se enfeitando com temas natalinos, com árvores reluzentes, com laços e presentes brilhosos, pode ser que nos esqueçamos de pensar como foi o primeiro natal, dois mil anos atrás. Um jovem casal de Nazaré teve de fazer uma viagem de última hora para Belém, por causa de uma exigência burocrática do governo. A moça, Maria Santíssima, era ainda adolescente e completava já os nove meses de sua primeira gestação. Talvez ela tivesse se acertado com algumas parentes e vizinhas de Nazaré para ajudá-la com as coisas do parto e da casa, naqueles primeiros dias – mas em Belém ela não conhecia ninguém… A própria viagem não deve ter sido fácil, montada durante alguns dias no lombo sacolejante de um jumento, mas o mais difícil foi perceber que, apesar dos esforços de José para encontrar um abrigo adequado para a família, todas as hospedarias por que passavam lhes fechavam a porta… De todo modo, estava claro que o momento do parto era próximo, e o jovem casal acabou se acomodando numa estrebaria, uma pequena gruta onde se guardavam animais. Quem já visitou um estábulo sabe que, em geral, não são lugares muito limpos nem muito cheirosos, mas José certamente logo pôs-se a arrumar o quanto podia, tirando o lixo, limpando a manjedoura onde os animais comiam, forrando-a de palha nova… Quem olhasse a cena desde fora certamente pensaria que este devia ser o nascimento mais infeliz de todo Israel, e talvez de todo o mundo: “Pobres desses pais! Que miséria, que tristeza!” E, no entanto, aqueles corações experimentavam uma alegria imensa, pois enxergavam o que realmente estava acontecendo ali. Enfim, Deus havia descido à terra: o Salvador fora finalmente enviado. Para ajudar-nos a entender esta verdade, Deus envia uma multidão de anjos para anunciar aos humildes pastores: Gloria in excelsis Deo! Anuncio-vos uma grande alegria: hoje nasceu para vós um Salvador, que é Cristo, o Senhor (cf. Lc 2,8-14).

Por detrás do aparente “fracasso” de Belém, estava escondida a tremenda felicidade do encontro tão esperado entre Deus e a humanidade. Esvaziando-se de Sua glória, o Verbo eterno se faz um menino; Aquele que sustenta em seu braço poderoso os planetas e estrelas mais distantes é sustentado nos braços delicados da jovem moça. Desde então, esta tem sido a forma com que Jesus vem agindo na história humana, a Sua “lei” de operação no mundo. Em Sua vida terrena, cresceu e viveu pobre, numa região periférica e pouco conhecida da Israel, ganhando a vida como trabalhador braçal. Depois dos três anos de pregação, deixou-se capturar e pregar numa Cruz, salvando a humanidade enquanto era humilhado e desprezado por todos que o viam. Depois de subir aos céus e deixar a Igreja como continuação de seu Corpo Santíssimo, permitiu que ela fosse perseguida e passasse por constantes crises ao longo de sua história, parecendo muitas vezes que estava prestes a ruir ao chão.

Pode ser que, neste Natal, também em nossa vida haja vários sinais externos de fracasso. Talvez enfrentemos a pobreza: falte-nos emprego, estejamos endividados ou até não possamos dar um belo presente aos filhos. Talvez algum compromisso nos tenha levado para longe da família, e tenhamos de passar o Natal entre gente desconhecida ou na solidão de uma gruta. Ainda assim, aquela mesma alegria intensa que preencheu os corações de Maria e de José pode vir até nós, se apenas soubermos transformar a dor em amor, e se nos doarmos como Deus se doou a nós. Nosso coração pode não ter os luxos de uma hospedaria chique; pode ser até que ele seja meio sujinho, como a gruta de Belém: mas o Menino-Deus aceita de bom grado vir até nós, desde que apenas o acolhamos, e abramos a Ele nossa porta. Digamos, então, ao Divino Infante: vinde, doce Jesus, vinde nascer em nosso pobre coração. Ele é bem pobrezinho, mas Vós não o desprezais. Trazei convosco vossa Santa Mãe, que nos ensine a devoção a Vós, e também vosso santo pai, que nos ajude a proteger-Vos dos perigos. Vem, doce Menino-Deus!

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários