Feliz Páscoa!

Cristo Ressuscitou, Aleluia! Depois de toda a peregrinação pelo deserto da Quaresma e de acompanharmos passo a passo o mistério da Paixão e Morte do Senhor, no sagrado Tríduo, eis que mais uma vez chegou para nós a grande alegria da Páscoa. Na liturgia da Vigília do Sábado Santo, nós nos emocionamos com vários ritos que manifestavam essa nossa alegria: o acendimento do Círio Pascal, que aos poucos foi espalhando sua luz a todos os fiéis; as leituras que rememoraram o amor e a misericórdia de Deus para a nossa salvação ao longo da história; o Glória entoado ao tilintar dos sinos; a renovação das promessas de nosso Batismo…

Passado esse grande momento celebrativo, no entanto, é provável que nossa vida cotidiana não seja muito diferente do que era antes, ao menos do ponto de vista externo. Continuamos tendo os mesmos encargos, os mesmos deveres familiares e profissionais, os mesmos desafios… Como, então, podemos fazer com que a alegria pascal permaneça conosco?

Pode nos ajudar a prestarmos atenção à forma com que Cristo triunfou sobre o mal e morte, no Mistério Pascal. Por vezes, instintivamente, nós tendemos a considerar como vitorioso apenas o Domingo da Ressurreição, relegando a Paixão e a Morte do Senhor ao nível de um acidente de percurso, ou de um “resultado do acaso num conjunto infeliz de circunstâncias”. Mas na lógica divina não é assim: a Paixão e Morte do Senhor “fazem parte do mistério do projeto de Deus”, e foi realmente no momento em que entregou seu espírito na Cruz que Cristo abriu aos que têm fé o reino eterno dos céus (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 599).

A grande vitória de Cristo sobre o pecado ocorreu, portanto, já na Sexta-feira Santa – embora tenha permanecido escondida até o domingo até mesmo aos discípulos, que por aquela altura haviam perdido a fé nas promessas de Ressurreição do Senhor. Enquanto Cristo sofria sua Paixão redentora, a única pessoa que realmente enxergava e entendia o sentido mais profundo daquela derrota aparente era Nossa Senhora. Quando seu Filho morreu e foi sepultado, somente Maria Santíssima manteve acesa em seu coração a chama da fé, que lhe dava certeza de que Ele ressuscitaria, como havia dito.

Por isso mesmo, aliás, é que na aurora do Sábado Santo, quando as mulheres vão ungir o corpo do Senhor, a Virgem não vai com elas – pois sabe, com a certeza firmíssima da fé, que Ele não está mais lá. Por isso é que rezamos, na Páscoa, o Regina Coeli, esta tão bela oração proferida pelos anjos a Nossa Senhora, na madrugada de Páscoa, e revelada séculos mais tarde ao Papa São Leão Magno: ela, que era a única a conservar a fé diante das aparências de derrota, mereceu ser a primeira a receber o anúncio e a prova da vitória.

Tudo isso vai bem: mas como pode nos ajudar a prolongar a alegria do Mistério Pascal diante de nossa rotina, de suas contrariedades e lutas? Se tivermos o mesmo olhar da fé que moveu Nossa Senhora ao longo do Tríduo, enxergamos que, já aqui e agora, em meio às lutas deste Vale onde se forjam as almas, e por detrás das aparentes derrotas que possamos experimentar, temos a certeza da vitória e do triunfo, se permanecermos unidos à vontade de Deus.

A Páscoa de Nosso Senhor abriu para nós as portas do Céu, e já não há nada nem ninguém – a não ser nós mesmos, com nosso pecado – que possa tirar de nós esta vitória, que é a única que realmente importa. Nesta Oitava de Páscoa, peçamos à Virgem que nos abra os olhos da fé, e que enxerguemos as realidades transitórias desta vida sob a luz da verdade eterna de Deus. Cristo ressuscitou, Aleluia! Ressuscitou verdadeiramente, como disse, Aleluia!

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