Igreja: comunhão, participação e missão 

Tivemos um ano pastoral intenso em nossa Arquidiocese, marcado pela conclusão do 1º sínodo arquidiocesano e pelo esforço para implementar os propósitos e propostas sinodais, traduzidos na carta  pastoral Comunhão, Conversão e Renovação Missionária. Muitas reuniões e encontros pastorais aconteceram para acolher as indicações sinodais e para as traduzir em novas práticas pastorais em nossas comunidades e outras expressões de vida eclesial.

Ao mesmo tempo, 12 grupos de trabalho dedicaram-se à revisão e à reformulação de uma série de instrumentos pastorais e administrativos da Arquidiocese, tentando adequar organizações, diretórios e normas arquidiocesanas às propostas sinodais. Alguns desses trabalhos já foram concluídos e outros ainda estão em andamento. Todo esse esforço pós-sinodal, agora, conflui para a assembleia de pastoral da Arquidiocese, que terá por missão elaborar as linhas de um novo projeto pastoral arquidiocesano para os próximos anos. A primeira etapa da assembleia será realizada no dia 9 de dezembro e a segunda, no início de março do próximo ano.

Enquanto isso, ao longo do ano, também aconteceu a preparação para a primeira parte da assembleia do sínodo universal, convocado pelo Papa Francisco, com o tema Igreja sinodal – comunhão, participação e missão. Em outubro passado, já foi celebrada uma primeira etapa da assembleia sinodal; a segunda, acontecerá em outubro de 2024. O sínodo universal trata da própria Igreja e tem por objetivo uma renovada acolhida da eclesiologia do Concílio Vaticano II e das suas consequências na vida prática da Igreja. A Igreja é uma realidade de comunhão (não divisão), participação (não passividade) e missão (não apenas conservação), que envolve a todos os seus membros.

A proposta e os propósitos do nosso sínodo arquidiocesano vão nessa mesma direção. A Igreja é uma realidade viva de comunhão, que tem seu fundamento na fé e na palavra de Jesus. A comunhão se faz em torno da fé comum que professamos e transmitimos; da Palavra de Deus, que é a base da nossa fé comum, e da tradição viva da Igreja; na celebração dos Sacramentos, que são os mistérios da graça que Deus proporciona a nós. A celebração da Eucaristia é, por excelência, a expressão da comunhão e da unidade na Igreja: comunhão com Deus, por Jesus Cristo, e comunhão na Igreja. Nossa comunhão também se expressa na união com os legítimos pastores e ministros da Igreja, encarregados de zelar pela comunhão de todos os fiéis. Cultivar a comunhão na Igreja é questão de fé e fidelidade a Jesus Cristo e ao seu pedido explícito no Evangelho.

A conversão e renovação missionária da Igreja são necessidades prementes em nossos dias. Por vários fatores, perdemos muito do fervor missionário, que sempre caracterizou a Igreja, e nossas comunidades, por vezes, denotam cansaço, falta de vitalidade, pouca participação, a quase ausência de crianças e jovens. E ainda: poucos batizados, pouca catequese, quase sem casamentos, baixa participação na missa dominical. Como consequência disso, até a manutenção administrativa se torna difícil. Esses são sintomas de estagnação, que podem ser superados somente quando se faz um trabalho missionário efetivo nas comunidades.

Não podemos nos contentar com uma pastoral apenas voltada para a conservação das coisas, sem investir na renovação missionária. A Igreja se renova mediante uma conversão missionária. Isso requer a fé e o esforço de quem está à frente das comunidades, dos conselhos pastorais e de todos os participantes das comunidades. Para tanto, é necessário retornar sempre às questões de base na Igreja: para que ela existe? Qual é sua missão? Quais devem ser suas prioridades? Quais questões não devem ser deixadas de lado e quais outras, talvez, possam ser deixadas em segundo plano? O nosso sínodo fez indicações importantes nesse sentido, que estão na Carta Pastoral.

Não posso deixar de reconhecer que muita coisa boa aconteceu ao longo deste ano pastoral. Há muito esforço sincero e entusiasmo de tantas pessoas e organizações eclesiais para renovar a vida da Igreja. Só Deus conhece a generosidade de tantos padres, diáconos, religiosas e religiosos, leigos e leigas em nossas comunidades e grupos eclesiais e Ele há de recompensar a cada um. A Igreja conta com esse amor sincero e dedicado de seus filhos.

A participação generosa na vida e missão da Igreja é, de fato, uma das questões destacadas pelo sínodo universal. A Igreja não é uma instituição clerical, mas a expressão organizada de todo o povo de Deus, com muitos dons, carismas e capacidades. Já no início do Cristianismo, São Paulo comparava a comunidade da Igreja ao corpo, cuja cabeça é Cristo, e que tem muitos membros e funções, cada um deles cuidando de fazer bem a sua parte para a saúde e a harmonia do corpo todo (cf 1Cor 12,12-31). Todos são chamados a participar da vida e missão da Igreja, cada um, conforme o dom que recebeu. Isso não diminui o dom específico e a responsabilidade dos ministros ordenados; mas requer que todos os batizados se sintam parte da Igreja e desempenhem nela a sua parte.

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