A Igreja Católica, em poucos dias, passou do luto à alegria. O respeitoso recolhimento e o luto eram bem justificados pelo falecimento do Papa Francisco; sua pessoa e seu pontificado de 12 anos deixaram marcas profundas no coração dos fiéis e da instituição eclesial. As manifestações de apreço por ele foram enormes e vieram não apenas de dentro da própria Igreja, mas também de quem não partilha a mesma fé católica e de quem nem é religioso. Francisco soube tocar o coração das pessoas e seu pontificado continuará a ser estudado por muito tempo. Ele abriu caminhos e iniciou processos de mudança no modo de ser e de agir da Igreja. O funeral de Francisco contou com a participação de uma grande multidão de povo, de autoridades religiosas e representantes de outras Igrejas e religiões.
Menos de duas semanas depois, a Praça São Pedro encheu-se de novo com uma numerosa multidão, que acolheu jubilosa o novo Papa, eleito pelos cardeais em menos de 24 horas de Conclave na Capela Sistina. O eleito foi o cardeal Robert Francis Prevost, OSA, que assumiu o nome de Leão XIV, de ascendência francesa e espanhola, nascido em Chicago, nos Estados Unidos, que completou a sua formação acadêmica e religiosa em Roma, foi missionário no Peru, superior provincial dos Agostinianos nesse país, superior geral da Ordem de Santo Agostinho por 12 anos, em Roma, novamente missionário no Peru, bispo da diocese de Chiclayio e administrador apostólico da diocese de Callao, também no Peru, e chamado pelo Papa Francisco para ajudá-lo como Prefeito do Dicastério para os Bispos, em Roma. O mesmo Papa o fez cardeal em setembro de 2023.
Muitos se perguntaram: como se explica que ele, tão depressa, passou de cardeal a Papa de toda a Igreja? Entenda-se que o episcopado, o cardinalato e o pontificado não são degraus de uma carreira eclesiástica, mas chamados a serviços sempre maiores, até que, como Papa, alguém se torna o servidor de todos os servos de Deus. A eleição do Papa não se explica mediante critérios apenas humanos. O Conclave esteve muito atento aos “sinais dos tempos”, para discernir quem pudesse servir a Igreja em responsabilidade tão alta nestes tempos que vivemos. Foi para isso que os cardeais e a Igreja inteira pediram ao Espírito Santo que iluminasse a mente e as escolhas dos cardeais e que eles, livres de qualquer apego ou desejo humano, tivessem em mente apenas o bem da Igreja e o cumprimento de sua missão. E foi para isso que os membros do Colégio Cardinalício, durante 12 dias antes do Conclave, reuniram-se para avaliar a situação da Igreja e do mundo, para discernir sobre a missão da Igreja e do próprio Sumo Pontífice.
O Papa foi escolhido para ser o sucessor de São Pedro, como encarregado de cuidar de toda a Igreja, de mantê-la unida na fé, em comunhão fraterna e no testemunho do Evangelho. Muitos se perguntavam se ele, Leão XIV, seria continuador do pontificado de Francisco, ou tomaria outro rumo à frente da Igreja. Todos os Papas são continuadores da missão recebida de Cristo e Leão lembrou, na sua primeira alocução aos cardeais, que ele e todos os batizados somos servidores da Igreja e lhe devemos ser fiéis. O Papa terá à sua frente Jesus Cristo e o Evangelho e, no coração, o bem da humanidade, em todos os sentidos. Terá um amor especial pelos pequenos, pobres, humildes e descartados da sociedade, como fez Francisco. Mas terá seu jeito próprio. E todos estão atentos às suas primeiras palavras, gestos e decisões para conhecer o jeito de Leão XIV.
Sobre o motivo da escolha de seu nome, foram feitas muitas especulações, até que ele mesmo explicou aos cardeais, com quem se reuniu no dia 10 de maio passado: entre outros motivos, o novo Papa inspirou-se no Papa Leão XIII, que escreveu a encíclica Rerum Novarum (“Das Questões Novas”), sobre as questões sociais decorrentes da revolução industrial. Com essa encíclica, aquele grande Papa do final do século XIX iniciou a publicação de uma série de encíclicas e outras manifestações do ensino social da Igreja na era contemporânea.
Leão XIV explicou que, à semelhança das situações sociais novas vividas com a explosão da sociedade industrial, hoje o mundo vive uma problemática muito vasta, decorrente da revolução tecnológica e da sociedade da informação. Com tantas coisas interessantes que essa nova revolução trouxe, apareceram também imensos problemas sociais e culturais, deixando à margem e à deriva vastos setores da comunidade humana e colocando em risco o ambiente da vida e a própria condição humana. Certamente, poderemos esperar uma atenção muito especial do novo Papa a essas “questões novas”, que marcam o nosso tempo. E isso reacenderá a “chama viva da esperança” neste tempo de muitas preocupações e incertezas diante do futuro.
Enquanto isso, Leão XIV também já deu a entender que a Igreja fala à humanidade a partir do seu chão e das suas convicções, que têm Cristo e a Palavra de Deus como luz e caminho e o anúncio do Reino de Deus, que é o supremo bem para toda a humanidade. Continuemos a seguir com atenção as suas palavras, gestos e atitudes.