Laudate Deum: Francisco volta ao tema

Em 2015, foi publicada a encíclica Laudato si’, do Papa Francisco, com a força de uma Rerum Novarum, de 1891, que, à época trouxe a mensagem sobre a questão trabalhista, levando os governos a legislar e respeitar estes direitos e impulsionando a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919.

Laudato si’ trouxe a mensagem urgentíssima do respeito e cuidado com a casa comum, com um convite ao diálogo e ao debate sobre os perigos que rondam a humanidade, caso não cuide de uma ecologia integral com abertura às categorias que transcendem as ciências exatas ou biológicas. É preciso ir além disso, ir em direção à pessoa e ao respeito à dignidade humana.

Dia 4 de outubro de 2023, Francisco volta ao tema, convidando a louvar a Deus por todas as suas criaturas, e finaliza o documento lembrando que “Laudate Deum é o título desta carta, porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo.”

O parágrafo final do documento remete à preocupação do Papa Francisco, ao constatar que não estamos dando real atenção ao apelo de cuidar da casa comum, à dignidade humana, pois o impacto das alterações climáticas afeta a saúde, a alimentação, a habitação e todas as condições de vida da sociedade, em especial dos mais pobres.

Laudate Deum aborda: 1) A crise climática global; 2) O crescente paradigma tecnocrático; 3) A fragilidade da politica internacional; 4) As conferências sobre o clima: progressos e falimentos; 5) Que se espera da COP28, em Dubai? 6) As motivações espirituais.

Quanto à crise climática global, deve-se observar que há “resistência e confusão”, uma vez que se tenta desacreditar o real problema e até mesmo apresentar conclusões com dados não científicos, enquanto o aquecimento global cresce por falta de cumprimento das metas traçadas.

As atitudes muitas vezes a esse respeito são tão ridículas que “na tentativa de simplificar a realidade, não falta quem culpe os pobres de terem demasiados filhos e procure resolver o problema mutilando as mulheres dos países menos desenvolvidos” (LD 9).

A tecnocracia usa os recursos naturais, tais como o lítio e o silício, como se eles fossem ilimitados, a partir de uma obsessão de aumentar o poder do homem. É preciso repensar a utilização do poder, pois “o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites.” (LD 25).

Na política internacional, há necessidade de novos procedimentos, com mais diálogo, consultas, com inclusão dos mais pobres, para legitimar qualquer decisão e para se respeitar os direitos de todos e não só dos mais fortes. (LD 43).

As conferências sobre o clima com a participação de cerca de 190 países desde a do Rio de Janeiro de 1992 não conseguem alcançar seus objetivos. A Laudate Deum traz uma síntese de cada uma delas, concluindo que as posições de países que cuidam apenas de seus interesses levam a um baixo nível de implementação dos acordos firmados. Todavia, mantém-se uma esperança na próxima conferência, a COP28.

O Papa Francisco deixa a mensagem: “Convido cada um a acompanhar este percurso de reconciliação com o mundo que nos alberga e a enriquecê-lo com o próprio contributo, pois o nosso empenho tem a ver com a dignidade pessoal e com os grandes valores.” (LD 69).

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Jose Maria Garcia Corral
Jose Maria Garcia Corral
8 meses atrás

A casa comum deve ser respeitada, e isso começa a partir de nossas ações concretas, seja individuais como as coletivas.