Oferecer a Deus tudo o que somos e temos

No Evangelho deste 32º Domingo do Tempo Comum, Jesus expõe as contradições dos doutores da Lei, que exploram os mais vulneráveis (as viúvas, neste caso) e a atitude de uma pobre viúva que dá ao Senhor, no Templo, tudo o que tinha para viver, confiando inteiramente na Sua providência. 

Há uma certa semelhança na atitude da viúva de Sarepta e a do Evangelho. Cada uma, a seu modo, expressa sua confiança em Deus. A primeira, usando tudo o que restava de sua farinha para fazer os pães pedidos pelo profeta, mesmo com o risco de morrer de fome junto com seu filho; a outra, dando de esmola no Templo tudo o que lhe restava. Ambas nos fazem recordar a bem-aventurança que afirma: “bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (cf. Mt 5,1). Em espírito, porque, diz o Papa Francisco, “há uma pobreza que devemos aceitar, aquela de nosso ser, e uma pobreza que, ao contrário, devemos buscar, aquela concreta, das coisas deste mundo, para sermos livres e poder amar. Sempre devemos procurar a liberdade do coração, aquela que tem as raízes na pobreza de nós mesmos”. 

A fé da pobre viúva se expressa em uma entrega total em plena confiança, com o coração livre de apegos que podem nos escravizar ou nos fazer soberbos ou autossuficientes. Sua generosidade decorre de sua confiança no amor do Pai que cuida de seus filhos e filhas. Bem diferente da atitude dos doutores da Lei que, ávidos por fama, honra e lucros, não se importam com a sorte dos que padecem sofrimento e carência. 

Ambas as viúvas, em sua situação de penúria e necessidade, são alvos do amor providente de Deus, tal como o Salmo 145 hoje nos recordou: “É o Senhor quem protege o estrangeiro, quem ampara a viúva e o órfão”. Os olhos de Jesus, voltados para a viúva do Templo, são os olhos de Deus voltados para os pequeninos deste mundo, mas que se voltam também para os que se julgam grandes ou importantes – abastados e felizes segundo os critérios do ter, do poder e da fama – aguardando sua conversão. Zaqueu, no que diz respeito aos bens deste mundo, foi um exemplo disso. 

Cristo é para nós o exemplo e paradigma de como devemos ter em conta o amor salvífico e providente do Pai, Ele, que pediu aos discípulos para que não se arvorassem na busca dos primeiros lugares, nem imitassem os poderosos deste mundo que dominam e oprimem, mas se fizessem servidores do próximo, lavando os pés uns dos outros. Ele, como atesta hoje a Carta aos Hebreus, viveu uma vida de completa entrega e doação a Deus e aos irmãos e irmãs, culminando na entrega de si mesmo ao Pai na cruz, por amor de nós – sacrifício de amor que redundou em salvação para todos os que creem. 

Diante disso, deixemo-nos questionar pela Palavra e nos perguntemos: Tenho um coração livre do apego aos bens, confiante na providência divina, sendo capaz de partilhar e servir com generosidade? De que modo tenho assumido a minha parcela de responsabilidade para com o anúncio do Evangelho e para com o sustento da missão? 

É bom não nos esquecermos destas palavras de Jesus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33) e ainda: “Ajuntai para vós tesouros no céu” (Mt 6, 20).

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