Livrai-nos do mal, Senhor

O tempo da Quaresma nos convida a fazer penitência, pois ela nos fortalece “no combate contra o espírito do mal” (Oração da coleta na Quarta-feira de Cinzas).  Chamados à conversão e a crer no Evangelho, fazemos este caminho rumo a Páscoa, por meio da oração, do jejum e da caridade. De fato, o sentido espiritual da Quaresma está em que “de coração purificado, entregues à oração e ao amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos” (Prefácio I da Quaresma).

Para viver as alegrias pascais, é preciso combater e vencer o espírito do mal. Na oração do Pai-nosso, como Jesus mesmo nos ensinou, pedimos que não nos deixe cair em tentação, mas livre-nos do mal. As palavras e ações de Jesus mostram como o Reino de Deus é uma luta ininterrupta contra o pecado e todas as demais manifestações do mal. Sabemos que Cristo vencerá todo mal, no seu triunfo final, quando Ele entregará o Reino ao Pai, depois de destruir todo principado e colocar os seus inimigos debaixo de seus pés (cf. 1Cor 15,2-25). Importante observar que não rezamos de modo individual ou singular – “livra-me” –, mas como membros de uma comunidade de fé, suplicando ao Senhor o dom da libertação das forças do mal, expressas na metáfora do dragão do Apocalipse, a antiga serpente, o diabo e Satanás (cf. Ap 12,7-9). O mesmo Jesus já havia assim rezado também na sua oração sacerdotal quando pede que sejamos protegidos das investidas do maligno: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guarde do maligno” (Jo 17,15). Sabemos que o Evangelista Mateus se refere, na oração do Pai-nosso, ao demônio, ao inimigo do Reino – “venha a nós o vosso Reino” –, o Satanás que se opõe ao projeto de salvação de Deus Pai. Esse “mal”, no singular, assinala o maligno e o que dele possa derivar, como o mal físico, moral, ou seja, tudo que conduz ao pecado. Como nos diz o Catecismo da Igreja Católica, 2851, “o mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O ‘Diabo’ (diabolos) é aquele que ‘se atravessa’ no desígnio de Deus e na sua ‘obra de salvação’ realizada em Cristo”. Portanto, diante dessa realidade que nos acompanha ao longo da vida, São Pedro nos exorta a vigiar, pois o inimigo “nos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar” (1Pd 5,8). 

Jesus, com suas palavras e sua vida a serviço do Reino, travou um forte combate contra o mal e na sua Páscoa venceu o mal dos males, a morte, e nos alcançou a plena Vida, a Ressurreição. A luta contra o mal é dura, uma batalha, e que se prolonga na história da humanidade e na vida de cada seguidor de Jesus. Muitas vezes, nos sentimos “como cordeiros no meio de lobos” (Lc 10,3), impotentes e ameaçados por anunciar e testemunhar o Evangelho. Nos caminhos da missão recebida pelo Batismo, somos chamados a lutar contra o mal. E pelo percurso quaresmal e a celebração gloriosa da Páscoa, possamos, pela graça de Deus, ser livres do maligno e de todos os seus males, para cumprir a sua vontade e construir o Reino de Deus.

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