Manifesto em favor dos professores: quando nos lembraremos deles?

Depois de um ano de pandemia, é necessário voltar o olhar para a educação, pois é o pilar essencial na constituição do indivíduo e de nossa sociedade. O professor é fundamental, pois não existe educação sem o educando e o educador. Vale destacar a importância deste profissional tão desvalorizado no Brasil, principalmente em tempos pandêmicos.

No ano passado, quando estavam todos em casa, muitos viram no professor um herói, que conseguia levar a escola para o ambiente on-line. Muitos pais viam aí algo capaz de entreter seus filhos. As escolas encontravam uma forma de se manterem vivas, sem exporem pessoas ao vírus. O Estado percebeu que o ensino remoto não provocaria aglomeração, impactando menos o Sistema Único de Saúde (SUS).

No início de 2021, decretou-se o retorno às aulas híbridas, que contam também com a figura do educador em sala de aula. Esse retorno foi baseado em estudos que indicavam que a reabertura de escolas não havia aumentado a média de casos. Uma das alegações é que a maioria dos alunos mora próxima do lugar onde estuda, e, assim, não sobrecarrega o transporte público. Os professores, porém, em média, trabalham em duas ou três escolas diferentes e, em uma cidade como São Paulo, é difícil afirmar que todos estejam na mesma região onde residem. Assim, o retorno das aulas presenciais obriga o professor a estar em sala e não o aluno, expondo a família do educador, mas protegendo a do educando.

Outro argumento que surgiu a favor da abertura de colégios foi o problema vivido pelas famílias, quando pais e mães têm que se desdobrar entre atividades profissionais e cuidado com as crianças em casa. Sem dúvida, esse problema deve ser considerado, mas a situação de uns não pode ser resolvida com o risco de outros. Sabemos que tanto as crianças quanto suas famílias estão sofrendo com o isolamento. No entanto, uma criança absorve a realidade que o meio apresenta muito em função do que os adultos lhe trazem.

Neste momento de pandemia, é dever dos pais mostrar para as crianças o que está acontecendo, porém as ajudando a terem uma visão positiva e aproveitando também este momento para amadurecerem e se tornarem, no futuro, adultos melhores e mais felizes. Assim, elas passarão com mais facilidade por esta época extremamente triste. Também para os adolescentes, estarem em casa pela preservação da vida de outros será um processo de amadurecimento.

Por outro lado, vale olhar para a realidade econômica das escolas, principalmente as infantis. Ao conversar com a dona de uma escola infantil, na zona Norte de São Paulo, ficou evidente que a instituição escolar teve respaldo do governo, como ajuda no salário de professores; no entanto, teve dificuldades de diálogo com órgãos como as secretarias da educação.

Um dos argumentos usados para defender o retorno às aulas é que o fechamento de escolas atenta contra o artigo 206 da Constituição, no qual se aponta para o direito à educação de todas as crianças, direito este que não foi tirado na quarentena, dado que a escola continua viva no ambiente on-line e que as crianças estão sem aula num período de crise, e não por toda a sua vida. Assim, abrir a escola, em um momento no qual a média de mortes é altíssima, atenta contra o artigo 5o da Constituição, o direito à vida.

Uma contribuição importante em prol da educação é exigir vacinação para todos os professores. No estado de São Paulo, iniciou-se a vacinação dos profissionais da educação em 10 de abril, mas ela ainda não atinge todas as faixas etárias. Com esse esforço, mostraremos que nossa prioridade é efetivamente a educação.

Arthur Acosta Baldin é ator e professor de Teatro, com ênfase em Arte e Deficiência

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