Missionariedade dos religiosos

Ao longo deste mês de outubro, dedicamos editoriais à temática das missões. Nesse sentido, falamos primeiro do apostolado que os leigos são chamados a desempenhar; refletimos, na sequência, sobre a adoção de uma mentalidade missionária em nossas paróquias, com a formação espiritual e doutrinal de suas lideranças e a valorização de uma liturgia sóbria e piedosa; e também tratamos da primazia que devemos sempre resguardar à graça e à atuação de Deus, e não às nossas próprias forças e criatividade.

Na reflexão desta semana gostaríamos de nos voltar mais diretamente às vocações religiosas missionárias: àqueles nossos irmãos e irmãs em Cristo que abraçam os três conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência com o propósito de levar ao mundo a Boa-Nova de Jesus.

Ao assumirem “aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo para cumprir a vontade do Pai” (Lumen gentium, 44), esses missionários colocam em prática aquele radical convite de Cristo: “Quem quiser poupar a sua vida irá perdê-la, mas aquele que entregar a sua vida por minha causa irá recobrá-la” (Mt 16,25).

Essas vocações são, de fato, um precioso tesouro na vida e na tradição da Igreja, pois, por um lado, libertam o coração dos próprios missionários do apego aos bens terrenos; e, por outro lado, dão credibilidade a seu apostolado perante os demais. Os missionários pobres, castos e obedientes, assim tornados “mais livres das preocupações terrenas”, transformam-se em verdadeiro “sinal, que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a corresponderem animosamente às exigências da vocação cristã” (Lumen gentium, 44).

Um exemplo recente desta frutuosidade é a vida da Irmã Clare Crockett – uma jovem irlandesa nascida em 1982, numa família de “católicos não praticantes”. O desejo de ser famosa que se fazia presente desde sua infância encontrou terreno fértil na menina extrovertida e talentosa, e logo começaram a surgir papéis na televisão e em filmes. Com a chegada da adolescência, a jovem Clare, como tantos de sua idade, ia se desviando rumo a um estilo de vida cada vez mais mundano, vão e hedonista. 

Aos 18 anos, no entanto, ela passou por uma verdadeira experiência de vocação divina – enxergou, por uma graça singular, que eram seus pecados que pregavam Jesus no madeiro da Cruz. Nos próximos dois anos, seu coração ficava dividido entre a promissora carreira nos filmes e o chamado, cada vez mais intenso, a entregar a vida como religiosa missionária – o que acabou prevalecendo quando ela entrou para uma nova congregação. Nos 16 anos seguintes, então, ela se dedicou à missão com crianças e idosos, ricos e pobres, na Espanha, nos Estados Unidos e no Equador – onde veio a falecer no terremoto de 16 de abril de 2016, junto com algumas meninas a quem dava aulas no colégio. Conforme relata uma irmã que sobreviveu à tragédia, Irmã Clare, momentos antes do terremoto, ensaiava com suas alunas a música Prefiero el Paraiso, “Prefiro o Paraíso” – e seu corpo foi encontrado com pedaços do violão na mão, ao lado dos corpos de suas alunas. O documentário que conta sua vida já foi objeto de reportagem no site do O SÃO PAULO e pode ser lida pelo link a seguir: https://cutt.ly/VRImfYr.

Eis aí uma verdadeira missionária, cuja vida “torna manifestos (…) a todos os fiéis os bens celestes já presentes neste mundo, é assim testemunha da vida nova e eterna adquirida com a redenção de Cristo, e preanuncia a ressurreição futura e a glória do reino celeste” (Lumen gentium, 44). Rezemos ao Senhor que mande para sua Igreja muitas vocações de radical entrega missionária, que nos inspirem com seu ardor! 

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