Não devemos ceder ao pessimismo!

No livro “Vida e Poesia de Olavo Bilac”, o escritor e jornalista Fernando Jorge escreve na Nota Preliminar da Primeira Edição, de 29 de março de 1963, o seguinte:

“Nesta época absurda, que consagra o apedeuta e condena ao ostracismo os cidadãos de talento e de caráter, em que os grandes homens de nosso país são os jogadores de futebol, em que a mocidade se mostra imbecilizada e sem fibra, época babilônica que endeusa o sexo e transforma a política numa transação financeira, nestes tempos dissolutos, vergonhosos, de canalhocracia, incultura e arrivismo, é sobretudo consolador evocar o vulto de Olavo Bilac, um poeta que confiou no futuro de sua terra, que consumiu os derradeiros anos de sua existência na tarefa de ascender, no peito dos brasileiros, a sacrossanta labareda do civismo”.

Recordo esse retrato da sociedade traçado com linhas duras pelo escritor e jornalista Fernando Jorge, em 1963, pois penso poderia ter sido escrito em 2024, sem muitas dificuldades. Diante de tantas e tantas notícias que temos via imprensa tradicional ou por redes sociais, pode parecer que estamos rumo ao abismo novamente! Uma época absurda! Ou ainda, podemos pensar que o mundo esteja do avesso, que nada vale a pena e que tudo está perdido! Assistimos atônitos ao desenrolar das notícias destes novos tempos dissolutos e vergonhosos.

Ora, se o poeta Olavo Bilac traçou linhas duras para a sociedade em que viveu na década de 60; o que dizer, então, da Carta de São Paulo aos Romanos, que dizia que “pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos.” (Rm 1,21-22).

Uma sociedade que trocou a verdade de Deus pela mentira. Uma sociedade sem Deus, entregue a paixões vergonhosas. Nas palavras de São Paulo: “Repletos de toda sorte de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem”. (Rm 1,29-32)

O Papa Francisco, em 2014, numa mensagem que faz eco à Carta de São Paulo, alertava: “Vivemos numa sociedade que exclui Deus do seu horizonte; e isto, dia após dia, narcotiza o coração”, e exortava: “Não podemos habituar-nos às situações de degradação e miséria que nos rodeiam. Um cristão deve reagir”.

Se a realidade lhe parece um fardo duro de suportar, que nos leva ao desânimo e à rendição, quiçá cabe nos perguntarmos com sinceridade, se também nós, os cristãos de hoje, não estamos excluindo Deus de nossas vidas, sem ao menos nos darmos conta?

Lembremo-nos das palavras de Cristo: “Eu estarei convoco, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Cada época implica os seus desafios próprios em termos sociais, econômicos, políticos etc., e exige da geração presente uma resposta evangélica. O Papa Bento XVI na carta encíclica Caritas in Veritate (CV) esclarece isso de forma claríssima: “O desenvolvimento é impossível sem homens retos, sem operadores econômicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo ao bem comum” (CV 71). Ou seja, cabe a nós o dever de uma consciência reta e de sermos sal e luz na sociedade.

Na sociedade há muitas misérias para quem as busca, mas, também, muita matéria para a santificação. O mundo – ensina São Josemaría Escrivá – “não é ruim, porque saiu das mãos de Deus, porque é criatura Dele, porque Javé olhou para ele e viu que era bom. Nós, os homens, é que o fazemos ruim e feio, com os nossos pecados e infidelidades. […] Há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir”.

Não devemos ceder ao pessimismo! “Quando nada acontece”, dizia Guimarães Rosa, “há um milagre que não estamos vendo”.

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