#Não nos limitemos a olhar! 

“É com imensa tristeza que anunciamos a notícia de que hoje, 13 de janeiro de 2025, o nosso querido Oliviero embarcou na sua próxima viagem. Pedimos privacidade e compreensão para este momento que gostaríamos de enfrentar na intimidade da família. Kirsti Toscani com Rocco, Lola e Alì”. Com estas palavras, a família anunciou a morte do conhecido fotógrafo italiano, Oliviero Toscani. 

Para quem acompanhou o trabalho deste controverso fotógrafo, em especial nas décadas de 1980 e 1990, responsável pelas campanhas publicitárias da empresa italiana de moda Benetton, o pedido da família pode soar um paradoxo. Paradoxo porque Oliviero Toscani tornou-se conhecido justamente por trazer a público aquilo que muitos gostariam que ficasse em privado, incluso momentos de intimidade familiar. 

Em 1989, Oliveiro Toscani publicava a fotografia de uma mulher negra que amamentava um bebê branco. Uma imagem que nos desafiou a enfrentar o tema de preconceitos raciais. A fotografia causou uma polêmica mundial. As operações da Benetton na África do Sul, ainda sob o regime do Apartheid, sofreram com constrangimentos infligidos aos seus representantes locais; mas curiosamente, foi nos EUA que após protestos da comunidade afro-americana, a fotografia foi censurada e retirada de circulação. 

Em 1992, quando a AIDS, doença causada pelo vírus HIV, ainda era um tema obscuro e suas vítimas estigmatizadas, foi Oliveiro Toscani quem publicou a imagem que retratava David Kirby, portador do vírus em estado terminal e em luto doméstico, acompanhado dos pais e de uma prima. Outra polêmica sucedeu-se, inclusive entre os católicos. No entanto, apesar da polêmica, a família de David Kirby pensava diferente. Disse o pai de Kirby como lembrou a revista Time em 2016: “A Benetton não está nos usando, nós é que estamos a usando a Benetton”. 

Outro trabalho assinado por Oliviero Toscani: Monumento a um soldado conhecido. A Benetton voltou-se para a sangrenta guerra civil na antiga Iugoslávia. Na época, o conflito era ignorado pela mídia mundial. Toscani fotografou as roupas usadas por um jovem combatente chamado Marinko Grago. A fotografia registrava as manchas de sangue e o furo da bala que o vitimara. De certa maneira, Toscani expressava a visão do Papa Francisco sobre a guerra: é um crime contra a humanidade, um horror e uma derrota. 

A fotografia de uma Freira beijando um padre, publicada em 1992, e a fotomontagem do Papa Bento XVI beijando o Imã do Cairo Ahmed el Tayeb, em 2011, talvez tenham sido as fotografias mais indigestas e incômodas a nós, católicos. O gênio criativo e provocador de Toscani sucumbiu-se à “concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. (1Jo 2, 16). No caso da fotomontagem do Papa, uma ação judicial do Vaticano fez com que o Grupo Benetton a retirasse do “ar” e expressasse um pedido de desculpas público aos católicos. 

O trabalho de Toscani revela que – apesar dos pesares – carregava em seu coração “a esperança como desejo e expectativa do bem”, como nos exorta o Papa Francisco na Bula de Proclamação do Ano Jubilar de 2025. Isso fica claro numa carta de 1990 ao jornal Slobondenje, de Saravejo, em que dizia: “Por trás de cada soldado há um homem com sua vida pessoal, e as pessoas que ele ama, a sua história. E atrás de cada vida rompida existe uma responsabilidade de um mundo que se limita a olhar”. 

Naturalmente, Oliviero Toscani teve acertos e erros. “Não é uma foto que faz história, é uma escolha ética, estética e política”, dizia Toscani em sua defesa. No entanto, ao final de sua jornada inquieta, alimento a esperança de que ele tenha feito um sincero exame de consciência. “Nós que não somos melhores que os homens medíocres, rezamos sempre para que os outros alcancem o arrependimento misericordioso de que precisamos, como a nossa própria consciência nos diz”, ensina-nos São Tomás Moro. Não devemos ceder ao pessimismo. 

Que em nossas escolhas nenhuma vida seja rompida porque nos limitamos a olhar! 

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