No dia 8 de julho de 1935, um rapaz de 20 anos entrava numa capela de Paris à procura de um amigo, com quem tinha combinado almoçar. Chamava-se André Frossard. Era filho do líder sindical Louis-Oscar Frossard, jornalista e primeiro secretário geral do Partido Comunista francês.
André Frossard dizia-se naquela altura ser “cético e ateu de extrema esquerda. Ainda mais do que cético, ainda mais do que ateu, indiferente e ocupado em coisa bem diversa do que um Deus que nem pensava mais em negar”. No entanto, cinco minutos depois de entrar na capela e se deparar com o Santíssimo Sacramento exposto no altar, saía de lá “católico, apostólico, romano, transportado, levantado, retomado e envolvido pela onda de uma alegria inexaurível”.
Anos mais tarde, em 1976, ao publicar o livro chamado “Há um outro mundo”, resumiu assim sua conversão: “Ao sair da capela da rua Ulm, sabia quatro coisas, ou melhor, via quatro coisas que me assombraram: há um outro mundo; Deus é uma pessoa; estamos salvos e, paradoxalmente, estamos por salvar; a Igreja é uma instituição divina”. E ainda, “não falo como hipótese, como argumentação ou por ter ouvido dizer: falo por experiência”.
“A conversão é coisa de um instante. A santificação é obra de toda a vida”, escrevia São Josemaría Escrivá. E Frossard, ao longo de sua vida, empregou o seu talento literário e a sua cultura para “dar testemunho do Amor” que lhe foi dado ao entrar na capela em busca de um amigo.
Em seu livro-entrevista com São João Paulo II, o primeiro do gênero com um Papa respondendo em 1ª pessoa, publicado em 1982, escreve Frossard: quando o Papa João Paulo II apareceu pela primeira vez nas escadarias da Praça São Pedro, com um grande crucifixo as mãos, “quando suas primeiras palavras “Non abbiate paura!” (“Não tenham medo!”), ressoaram pela praça, no mesmo instante todos compreenderam que alguma coisa se mexera nos céus”. “Informaram-nos de que vinha da Polônia. Mas eu tinha antes a impressão de que acabara de deixar as suas redes às margens de um lago, nos calcanhares do apóstolo Pedro, e vinha direto da Galileia. Jamais eu me sentira tão perto do Evangelho”.
Quando rezamos o Terço, em seus mistérios gozosos, no quinto mistério, contemplamos a cena do “menino perdido e achado no templo”. Às vezes, gosto de pensar em Frossard e na sua conversão como o menino perdido – ele dizia sobre si mesmo ser ateu plácido e isento de inquietações – mas que fora encontrado no templo, quando estava à procura de um amigo.
Oração, penitência e conversão: isto foi o que a Virgem pediu à humanidade por meio dos pastorinhos. Quantos amigos estão pendentes em nosso Terço diário? Quantos “Frossard” conhecemos? Quantas dezenas são rezadas diariamente para os céticos, ateus e indiferentes?
O ambiente familiar e social em que cresceu durante os seus primeiros 20 anos era totalmente alheio a Deus. “Nenhuma instituição –escreve Frossard – me era mais estranha do que a Igreja Católica e, se a palavra não encerrasse um matiz de hostilidade ativa – coisa que não é do meu feitio – diria que me era antipática. Era como a Lua, o planeta Marte: Voltaire nunca me falou bem dela, e desde os meus 12 anos não lia senão ele e Rousseau”. No entanto, Frossard se converteu.
Cristo conta conosco diariamente, sobretudo, de onde menos se espera. Cristo conta sempre com os seus amigos. Foi assim com André Frossard e seu amigo, mas também foi assim com São Paulo e Ananias. Frossard sente insufladas estas palavras “vida espiritual” numa capela em Paris. São Paulo, a caminho de Damasco, ouve: “Saulo, Saulo, porque Me persegues?” Suas vidas se transformaram a partir deste encontro pessoal com Cristo. Porém, em ambos os casos, há um discípulo de Cristo. A fé raramente nos chega sozinha.
Quiçá ao vermos aquelas pequenas lâmpadas ou velas acessas próximas aos sacrários tremular de longe, no silêncio interior de nossas igrejas, recordemos o que nos disse André Frossard: Há um outro mundo. Não tenhamos medo de um mundo cético, ateu, materialista e indiferente!
A experiência de sentir a força de Deus junto a mim é algo impossível de traduzir em palavras por força do transcendente inimaginável, porém concreto!!! Vem de dentro com uma força leve e forte!