Aproximamo-nos, dia após dia, da celebração do Natal, em que comemoramos como Igreja o mistério da Encarnação e o nascimento do Nosso Salvador, Jesus Cristo. Tamanha a importância dessa data que na liturgia há três missas distintas para celebrá-la: a missa da noite de 24 de dezembro, conhecida como “Missa do Galo”, em que é simbolizado o nascimento carnal e no tempo de Nosso Senhor; a da aurora, simbolizando o nascimento místico e espiritual em nossas almas; e a do dia, a geração eterna do Verbo. Deus, tendo sido anunciado primeiro a Maria, finalmente nasce de seu ventre e começa, desde já, a se preparar para a missão para a qual veio ao mundo: anunciar o Evangelho e salvar todas as pessoas que se abrem a acolhê-Lo.
A grandiosidade de amor neste ato é impossível de se colocar em palavras. Tentando explicá-la, disse o Papa Bento XVI: “‘O Verbo fez-Se carne’. Fitando esta revelação, ressurge uma vez mais em nós a pergunta: Como é possível? O Verbo e a carne são realidades opostas entre si; como pode a Palavra eterna e onipotente tornar-se um homem frágil e mortal? Só há uma resposta possível: o Amor”.
Essa ardente caridade, incansável em nos atrair a si, fez com que Cristo, “existindo em forma divina, não se apegasse ao ser igual a Deus, mas se despojasse, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano” (Fl 2,6-7). No Natal, portanto, Aquele que criou todas as coisas e para quem todas as criaturas foram feitas, escolhe nascer com nossas misérias por nós. Quanto a isso, diz Santo Agostinho: “Está em uma manjedoura, mas traz em si o mundo. Toma o peito, mas alimenta os anjos. Está envolto em panos, mas nos reveste de imortalidade” (Sermão 190). Já em seu nascimento, Jesus mostra que a força do amor é capaz de superar qualquer lógica humana, independentemente das circunstâncias.
Contemplar essa realidade de coração aberto e sincero deveria fazer qualquer pessoa se emocionar. Sem dúvida, é exatamente isso que ocorre com inúmeros fiéis quando atendem à Santa Missa em suas respectivas paróquias. Contudo, mais do que simplesmente levar às lágrimas ou “sentir-se preenchido”, o mistério da Encarnação nos impele a algo muito maior: corresponder a esse Amor. Aquele que nos amou primeiro, quando éramos ainda pecadores, se humilha e vem praticamente implorar pelo nosso amor. Que vamos fazer com isso? Ignorá-Lo? Desprezá-Lo? Quantas vezes ao longo de nossas vidas nós colocamos um amor maior nas coisas passageiras, destinadas a nos decepcionar, e não o colocamos Naquele que é eterno e nunca solta a nossa mão?
A imagem do Menino Jesus no presépio, nesse sentido, serve para nos lembrar de duas coisas: primeiro, o desapego de Deus de sua própria majestade em vista de trazer-nos a Si. Na fragilidade de um recém-nascido está implícito tudo aquilo que Jesus sofreu por nós, desde a fome, o frio, as dores, até o desprezo, a humilhação e a injustiça humana. Contudo, na mesma figura, podemos meditar sobre a postura que devemos ter para com Nosso Senhor – “Se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3). É com a postura de uma criança, que em tudo depende e em tudo confia em seu pai, que devemos nos apresentar e recorrer a Deus.
Por isso, que este Natal seja ocasião de rememorarmos de forma ainda mais especial o amor e cuidado de Deus com cada um de nós. Quando nos unirmos com nossos familiares e entes queridos, a quem tanto desejamos o bem, voltemo-nos também a Jesus, sabendo que Ele os ama e nos ama ainda mais. Assim, ao abrirmos nosso coração ao amor de Deus, possamos também nós corresponder-lhe, sendo impelidos a agir verdadeiramente transformados pela caridade.





