Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do último Censo, realizado em 2022, destacando a religiosidade dos brasileiros. Porém, antes de falarmos dos resultados, cabe explorarmos a importância estatística ao longo dos séculos.
A história dos censos remonta aos tempos antigos, como informa o próprio IBGE. O registro mais remoto deles, que se tem notícia, é o da China, realizado em 2238 antes de Cristo (a.C.), pelo Imperador Yao, que mandou realizar o recenseamento da população e das lavouras cultivadas.
A prática de recenseamento (ou censitária) foi uma medida empregada pelos governantes em diversas épocas, regiões e culturas, e continua como instrumento válido até os dias de hoje. Entre os diversos censos realizados na história, cabe destaque para os fins deste artigo os realizados pelos romanos. Eles fizeram cerca de 72 censos entre 555 a.C. e 72 d.C. Os motivos de sua realização é que serviam para quantificar a população e a sua riqueza, estabelecer o recrutamento para o exército, o exercício dos direitos políticos e, sobretudo, para o pagamento de impostos.
Destes períodos censitários romanos, um deles acabou por registrar algo especial, muito além do imaginado pelo Imperador César Augusto, que reinou de 27 a.C. a 14 d.C. Por decreto, o Imperador, ordenou o recenseamento de toda a Orbis Latinus; ou seja, de todas as regiões dominadas e submetidas ao Império. O que sequer imaginou: acabou por registrar, na história humana, o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando a Sagrada Família foi à sua cidade natal, para lá ser recenseada.
Nas palavras do evangelista São Lucas: “Naqueles tempos, apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Esse recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa, Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o em um presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,1-5).
Inspirados nas palavras de São Lucas, debrucemo-nos nos resultados do Censo 2022. Segundo o IBGE, o recenseamento da população brasileira católica acima de 10 anos representa 56,7% da população. Em números absolutos, cerca de 100,2 milhões de brasileiros. A população que se declara evangélica representa 26,9% ou aproximadamente 47,4 milhões. Demais religiosidades são 7% (12,2 milhões); e os que se declararam sem religião são 9,3%, portanto, algo como 16,3 milhões de brasileiros.
Faço uma ressalva à série estatística do IBGE. O Instituto não explicou o porquê da mudança de base de apresentação dos dados. Desde 1872, data do 1º. Censo brasileiro, até 2010, data do penúltimo Censo, a base de dados sempre foi apresentada em termos de população total. No Censo de 2022, essa base foi alterada para acima de 10 anos, o que deixa fora do recenseamento cerca de 26,4 milhões de crianças.
Para os católicos, trata-se, a meu ver, de uma mudança importante. Afinal, uma família que se declara católica, por mais ausente que esteja de sua prática da fé, sabemos que, em geral, batiza seus filhos nos primeiros meses de vida.
No entanto, não restringimos a esse que é o olhar matemático, quantitativo, ao qual escapa a beleza do registro de São Lucas. Como nos disse o Papa Bento XVI, em Fé e Futuro, “o futuro da Igreja, ainda hoje, não pode apoiar-se senão na força daqueles que vivem com raízes profundas e que vivem a partir da pura plenitude da sua fé. O futuro não se apoiará naqueles que só prescrevem receitas. O futuro não virá daqueles que se adaptam a cada momento. […] Afirmamos isto de forma positiva: também desta vez e como sempre, o futuro da Igreja será marcado pelos santos”.
As estatísticas apresentadas pelo IBGE suscitam um exame de consciência profunda dos católicos, de quem crê, reza e age: como transmito e defendo a minha fé das pedradas do mundo? Como educo a minha família, amigos próximos e quem está ao meu redor, diante de uma sociedade que vive do espetáculo, do instantâneo, em que tudo é relativizado?
Diante das adversidades ou contrariedades do mundo atual, lembremo-nos de que quando Jesus Cristo nasceu sequer havia hospedaria para Ele no mundo. Deus tem seus caminhos. Não é o número de católicos que garante a vitalidade da Igreja, mas sim a profundidade, coerência e o compromisso dos católicos com a fé professada.
É preciso ser católico. Não é sem razão que São Paulo nos diz: “Por ora, subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade”. A fé católica não se resume a um exercício intelectual!