O ser humano tem uma atração por coisas que saem da aparente normalidade. O diferente é, por vezes, algo fascinante, sobretudo porque avança para além do nosso controle, possibilitando novas emoções e sensações.
Somos atraídos por situações que se alargam para fora da nossa zona de conforto. Situações simples, como a vontade de assistir a um filme de terror, tendo a consciência de que o medo não irá nos deixar dormir bem à noite; ou tentar uma manobra nova com a bicicleta, encarando as consequências de um possível acidente. O diferente também ganha rosto com todos aqueles que não pertencem ao nosso grupo. E aqui o brilho da descoberta inicial pode se render a uma áspera vontade de não dialogar: se sou corintiano, não me apetece o contato com o palmeirense; se tenho um posicionamento político, não consigo compreender como o outro não partilha dele; se sou católico, não entendo quem não o seja…
Com o tempo, vamos nos “encapsulando”, evitando o acesso a outras realidades que não a nossa. Isso frequentemente acontece com a religião. A minha religião é pura; qualquer outra religião, impura. Muitos de nós crescem com medo de se relacionar com pessoas de outras religiões, com a falsa impressão de que podem contaminar a nossa relação com o divino, como se a habitação de Deus fosse cercada pelos muros da nossa paróquia. Para superar essa visão reducionista e limitada acerca de Deus e do seu amor, que alcança indiscriminadamente a todos pelo mundo, precisamos de ajuda.
No meu caso, essa ajuda veio em um primeiro momento no estudo da Teologia e da História da Igreja, mas foi a experiência do encontro que me trouxe a certeza de que no irmão diferente, de outra confissão religiosa, Deus também habita. Foi a partir do encontro, da relação com quem tem convicções diferentes das minhas, que eu compreendi a necessidade e a importância de buscar caminhos possíveis de convivência, respeito e diálogo. A visão que o outro tem do mundo eleva a nossa sensibilidade para aspectos que antes passavam despercebidos. E para usufruir dessa riqueza da convivência, não é preciso atenuar ou relativizar as próprias convicções – e talvez esteja aqui a dificuldade da grande maioria, como foi para mim.
O Papa Francisco dedicou o mês de janeiro deste ano para, por meio da oração, combater a discriminação e a perseguição religiosa no mundo. Usou uma frase de grande impacto: “Ou somos irmãos ou todos perdemos”.
No caminho em busca da fraternidade possível, podemos nos unir em causas comuns, sem a preocupação com aquilo que nos diferencia. Se perguntássemos a um muçulmano se gostaria de uma escola pública de qualidade para o seu filho, certamente ele diria que sim – ora, nós, católicos, responderíamos a mesma coisa. Se perguntássemos a um umbandista se gostaria de um sistema de saúde mais humano, acolhedor e eficiente, certamente ele diria que sim – ora, nós, católicos, responderíamos a mesma coisa. Então, está provado que podemos caminhar juntos, na busca por estes e tantos outros objetivos que transcendem as expressões de fé e tornam a vida [de todos], aqui e agora, melhor.
Ainda há muito o que ser desmistificado, mas o diferente é apaixonante. O diferente que não fere a dignidade da vida humana é passível de experiência, enriquece a convivência e faz do planeta um lugar melhor, para católicos, muçulmanos, umbandistas, judeus, espíritas, hindus… Essa relação pode começar com um “bom-dia”. Experimente!
Brilhante opinião do autor. Assino embaixo. Parabéns Diácono Bruno!
Parabéns Bruno, excelente artigo e muito pontual ao nosso momento
Parabéns meu amado. Suas palavras sempre encantam, adoçam a alma e acalentam meu coração.
Parabéns Bruno. Ótimo artigo e esclarecedor. Abraços.